26.4.04

O ÓDIO (OU A FRUSTRAÇÃO) DE ANA CRISTINA REIS

Doces figuras, vou deixar por alguns instantes o tom pessoal da revista para, voltando aos velhos tempos, que jamais me abandonaram, sentar o cacete numa figura abjeta que trabalha como editora do jornal O GLOBO, e isso já é incompreensível, eis que a mesma não é jornalista e não tem nem cacoete de. Ana Cristina Reis, editora do dispensável, fútil, inútil e acéfalo caderno ELA do jornal O GLOBO, publicado aos sábados, assinou uma coluna no caderno do dia 17 de abril de 2004, que seria motivo o bastante para qualificá-la como uma desqualificada para a função que exerce.

O título da coluna é "ÓDIO", sentimento que a mesma consegue, com louvor, despertar no leitor de sua absurda visão. Segue trecho abaixo, em itálico, seguindo-se meus comentários.

"O que a gente aprende na vida... Descobri recentemente que preciso liberar o ódio que existe dentro de mim. Nunca rodei a baiana com namorado, amigo, irmã, pais. Nunca vi ninguém da família gritando ou se xingando. Nunca desejei mal a um desafeto ­ desejava que fosse promovido e mudasse de seção. Por conseguinte, é claro que devo ter muito ódio em estoque. Até a semana passada, essa história de soltar os cachorros ­ e liberar aversão, repugnância e desprezo ­ era retórica, um exercício saudavelmente teórico. O máximo que despertou em mim foi dizer para o sujeito que insistia em espirrar água suja com sabão no pára-brisa do meu carro: “Poupe-me, rapaz. Mas a fachada de verniz está vindo abaixo. Está ficando difícil suportar tanta incompetência e tanta ausência. Não agüento mais ouvir falar do MST. Vi na TV uma reportagem que dizia “os trabalhadores do MST querem”, os “trabalhadores do MST exigem”. Os trabalhadores. E eu sou o quê? Desocupada? Porque já sei que sou boba ­ pago imposto, sigo a lei e não solto os cachorros em ninguém. O que me impede de invadir a piscina do prédio ao lado? Eu sou uma sem-piscina. O que me impede de subtrair aquela sandália italiana de strass, lindona, que minha amiga só usa uma vez por mês no máximo? Eu sou uma sem-sandália de strass. O que me impede de pegar caixas de vinho da loja de bebidas que tem tantas garrafas? Eu sou uma sem-vinho."

Vejam bem. Ana Cristina Reis, que atende neste email, deu o nome de "ÓDIO" à sua coluna, mas melhor caberia se fosse "ODE À FRUSTRAÇÃO".

Há erros crassos no texto paupérrimo da moça (incrivelmente ela é uma moça, embora o discurso seja velho, rançoso, quatrocentão).

Começa quando a mesma diz que precisa liberar o ódio que existe dentro dela. Pobre coitada, não há nada, rigorosamente nada, dentro de Ana Cristina Reis. Vamos seguindo.

Percebe-se, ao longo da leitura, que Ana Cristina Reis mente. Mente quando diz que a um desafeto, desejava uma promoção e a mudança da seção no trabalho. Não é necessário usar mais de um neurônio para enxergar aí, neste ponto de seu texto tosco, a mentalidade da editora, que deve seguramente tratar seus "empregados" como escravos, afastando-os e mantendo, segundo sua visão estrábica e preconceituosa, o ambiente higienizado.

Percebe-se, ao longo da leitura, que Ana Cristina Reis é parte de uma burguesia suja, responsável pelo abismo que abre verdadeiras crateras no desigual tecido social brasileiro.

Percebe-se isso quando a asquerosa editora diz que, quando parada com seu carro no sinal é abordada por um garoto que não tem escola, que não tem emprego, que não tem acesso à nada, diz apenas "poupe-me, rapaz", e deve dizer isso de dentro do carro, de vidros fechados, com cara de nojo e insensível aos problemas que arrastaram aquele garoto para os sinais de trânsito e não para os bancos da escola.

Aliás, Ana Cristina Reis, certamente, terá sido uma odiosa combatente dos CIEP´S, o maior programa educacional já implemantado no País. "Imagine", pensava Ana Cristina Reis, "esses rapazes que deveriam estar limpando vidros de carro com água suja e sabão estudando em escolas de tempo integral, com assistência médica, odontológica e fazendo três refeições por dia!".

Percebe-se, ao longo da leitura, que Ana Cristina Reis, é burra. Burra e frustrada.

Queixa-se de não ter piscina em casa, e é impossível não lembrar dos versos "a tua piscina está cheia de ratos", de Cazuza.

Queixa-se de não ter uma sandália italiana de strass e de não ter vinhos, dizendo-se também uma "sem-vinho", numa alusão novamente pobre, estúpida e repugnante aos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que são, sem dúvida, o mais importante movimento de que temos notícia no Brasil, liderado hoje por João Pedro Stedile.

Ana Cristina Reis, quando cita o MST e seus membros, fala em trabalhadores, entre aspas, expediente ordinário para dar tintas de deboche ao título.

Vamos repetir esse trecho: "Não agüento mais ouvir falar do MST. Vi na TV uma reportagem que dizia “os trabalhadores do MST querem”, os “trabalhadores do MST exigem”. Os trabalhadores. E eu sou o quê? Desocupada? Porque já sei que sou boba ­ pago imposto, sigo a lei e não solto os cachorros em ninguém."

É preciso que alguém diga, e daqui eu digo, a essa moça, quero repetir, desqualificada para a função que exerce, o que ela quer saber quando pergunta "e eu sou o que?".

Ana Cristina Reis, quando diz que paga os impostos e segue a lei, precisa saber que a lei a que ela se refere, é, ou deveria ser, para todos e por todos cumprida.

Ela, eu posso dizer, é uma frustrada, ou não estaria se valendo de espaço num jornal do porte de O GLOBO para destilar suas frustrações, suas queixas de que não tem piscina, de que não tem sandália italiana de strass e de que não tem vinho.

Quanto ao vinho, eu sei e posso afirmar que é mentira. Não sei se Ana Cristina Reis faz parte dos "Companheiros da Boa Mesa", mas é assídua freqüentadora dos almoços mensais da confraria. É reconhecidamente citada em colunas de diversos jornais como conhecedora de vinhos, da alta gastronomia, o que, a bem da verdade, não depõe contra. O que depõe contra é a desfaçatez de Ana Cristina Reis quando diz que é uma "sem vinho", e o que é pior, tudo isso para destilar seu ódio, daí o nome com que batizou a coluna, contra o MST.

Seria recomendável que a moça, que deve bradar aos quatro ventos que é jornalista, lesse a edição 288 da revista CARTA CAPITAL, que faz jornalismo de verdade.

Para saber que os assentamentos, arrancados à força pelos bravos lutadores do MST, têm trazido significativos ganhos sócioeconomicos que saltam a olho nu. Tomando por base 15 mil famílias assentadas entre os anos de 1985 e 1997, pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro coletaram dados sobre os impactos da reforma agrária em todo o País.

Diz a matéria, assinada por Amália Safatle e Luiz Alberto Weber, que os assentamentos elevaram o poder de compra das famílias assentadas, dinamizaram o comércio local das cidades em volta dos assentamentos, melhoraram as condições de alimentação da população assentada, reforçaram os laços familiares, aumentaram o poder de organização política dos trabalhadores, incrementaram o status social dos ex-sem-terra, diversificaram a pauta agrícola e geraram empregos. E o mais importante. Todos foram incluídos na pauta da cidadania. Um dado importantíssimo da pesquisa, e isso está lá na matéria, diz que "96% dos assentamentos pesquisados tiveram como origem movimentos de resistência ou ocupação de áreas (...), foram feitos na marra, sem esperar pela boa vontade do poder público, empunhando bandeiras do MST (...)".

É como diz João Pedro Stedile, em entrevista à CartaCapital: "Qualquer assentamento no Brasil, seja do MST ou não, é uma escola de cidadania. lá as pessoas conquistam os direitos de cidadão. A maioria continua pobre. Mas todos se alimentam bem, todos têm trabalho, todos têm casa, mesmo que seja humilde, e todas as crianças, todas, vão à escola.".

Tudo isso deve ser insuportável para uma pessoa como Ana Cristina Reis.

Que não é pobre, está longe disso, mas quer mais. E além de querer mais, não admite a luta, fundamental para as conquistas mínimas de um cidadão, para os que nada tem.

Escola de cidadania nela.

Se ainda houver tempo.

Até.

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