30.5.05

NO CLUBE RENASCENÇA

Sábado, 48h depois da nossa performance espetacular, Augusto e eu marcamos novo encontro no Clube Renascença, no Andaraí, dessa vez com a presença da Dani, para a roda de samba que vem sendo armada pela numerosa e talentosa família de ninguém menos que Zeca Pagodinho. E eu senti-me um paulista na área. Todos os "obas", todos os "olás", todos os acenos de mão, todos os abraços e todos os tapinhas nas costas eram dirigidos ao Augusto.

E o Augusto apresentou-me, naquela oportunidade, ao Zé Sérgio, figura que tem marcado presença franciscana no Conexão Irajá, batendo um bolão nos comentários.

Falei no Conexão Irajá e não é possível não tecer brevíssimo comentário sobre o Szegeri, meu implacável Otto. Contei-lhes que durante a epopéia de quinta-feira, mantendo uma tradição estranhíssima, bati o telefone umas 30 vezes pro Szegeri. E não me lembro de nenhum de nossos diálogos, se é que houve diálogos. Mas recebi doce email do Szegeri na sexta-feira do seguinte teor: "Edu, você pode me ligar sempre que quiser, mas evite interromper minhas cópulas dezenas de vezes num intervalo de poucas horas". Morreu ali a minha sexta-feira. Apaguei o telefone do meu Otto de minha agenda e jurei nunca mais incomodá-lo.

Mas como ia dizendo, apresentou-me, o Augusto, o Zé Sérgio. Figuraça. Saudou-me com um "amigos de infância, amigos de infância!" que me embriagou antes do primeiro gole. Foram chegando a Guerreira, o Dedeco, a Kaká, a Fumaça e a Sumatra, sua prima. O samba comendo solto, a feijoada fumegando na extensa mesa, a cerveja vindo nevada à mesa, até que o Zé Sérgio - são 16h - me disse com a mão no ombro e a boca colada ao meu ouvido: "Estou numa alegria intensa... minha mulher conseguiu convites para um ballet hoje à noite em Niterói. Carmen. Do Bizet.". E pôs-se a chorar que dava pena.

Vejam vocês do que é capaz uma mulher. O Zé estava iluminadíssimo naquela mesa. Bebia cachaça e cerveja, intercalando os goles, cantando os sambas, ensaiando uns passos, e a cada 5 minutos chegava a boca perto de meu ouvido e repetia "Edu... ballet... tudo o que eu queria pra hoje à noite...". E chorava.

Quanto mais a tarde avançava, mais a ira do Zé crescia, e ele dirigia impropérios divertidíssimos... "Edu... o que eu tenho a ver com a vagabunda da Carmen? Tô muito mais pra Xerém do que pra Espanha...", e chorava mais, guinchava mais e sua imagem era de uma melancolia com pernas, braços, olhos azuis e cabeça branca.

É preciso dizer que todos à mesa faziam sinais com os indicadores apontando para os pulsos como quem diz "olha a hora! olha a hora!", e a Guerreira cantava e dançava "Habanera" como uma espanhola de Madrid, Augusto, com a toalha da mesa, cantava "Toreador" enquanto a Dani brincava de touro diante de um Zé em desespero.

Sete e meia da noite e os olhos do Zé eram duas postas de sangue e lágrima ao despedir-se. Saiu em passos curtos, a cabeça baixa, os braços pendendo como os de um símio, rumo à Niterói, de táxi.

Mandou-me simpático email no domingo contando detalhes da viagem: parou na Leopoldina pra comer um X-Tudo, na rodoviária pra tomar uma média de café, no pedágio pra comprar biscoitos de polvilho, e na porta do Teatro Municipal, onde traçou quatro churrasquinhos com farofa e molho à campanha.

Contou-me mais: fora expulso por seguranças do Teatro quando, ainda no primeiro ato, diante da performance da Companhia de Ballet de Niterói durante o prelúdio, gritou alucinado "dancem o miudinho, porra, o miudinho!".

Detalhe final: o Zé cravou em minha lapela uma medalha imaginária quando disse antes de partir, "Edu, gostei de você por que você não vale rigorosamente nada.". Nesse momento pensei em ligar pro Szegeri para lhe contar do encontro, mas diante do juramento, desisti.

Até.

2 comentários:

Anônimo disse...

O momento inesquecível do Zé Sérgio neste último sábado foi quando o vi em volta da roda de samba abraçado ao Meco (irmão do Zeca; bebe tanto quanto). O relógio marcava 7 e 30 da noite. Minutos depois tomou o rumo em direção ao teatro. Saiu de Xerém e foi para ao Municipal ver um espetáculo de ballet. Um momento gigante e inolvidável.

Anônimo disse...

Pior de tudo é que aquelas duas bailarinas que faziam o papel das Carmens me lembraram a Dorina, os dois caras que faziam o Don José eram os cornos do Wander Sete Cordas e a dupla de toureiros com aquelas boinas - só faltaram a flauta e a garrafa de Maribondo -não sei por quê pareciam dois Camunguelos camunguelando em frente à fábrica de baseados. E ainda tinha na platéia, ao meu lado, uma mulata rastafari que era os cornos da Leci Bandeira Brandão do Brasil. Senhores, eu mereço!