1.6.05

TRUQUES DO DEDECO



Eu estava ontem à noitinha diante da TV assistindo a um programa, por sinal sensacional para quem é chegado a uma cozinha, no GNT, chamado "Truques de Oliver", de um chef inglês que faz o diabo preparando um prato atrás do outro, um melhor que o outro, e eu tenho, durante as cenas, a nostalgia e a depressão do gordo que eu já fui um dia, e chego a morder as almofadas de uma fome que é apenas visual. Findo o programa, a palavra "truques" batucava em minha cabeça. E veio a centelha. O Dedeco!, o Dedeco!, o Dedeco não entende rigorosamente nada de cozinha mas é um mágico quando o assunto é truque. Daqueles de cartola, fraque, daqueles que animavam as festas de criança quando ainda não haviam inventado essas detestáveis casas de festas de criança, que se assemelham a um campo de concentração, onde você é torturado da hora que chega à hora em que vai embora. Um mágico portentoso, o Dedeco. Só que em vez de tirar coelhos da cartola, como faziam os mandrakes, o Dedeco mete em sua cartola umas lebres que se deixam levar por sua lábia, por sua performance e por seus truques. Vou explicar melhor.

Eu falo muito à vontade, eis que sou um feio conformado. Jamais em minha vida, já não tão curta, ganhei uma única mulher com um único "oba", com um único piscar de olhos (quando eu pisco os olhos minha boca entorta e eu fico ainda mais feio), com um "psiu" nas calçadas. Ao longo da vida, desenvolvi técnicas mais rebuscadas, que iam de mentiras encantadoras a papos sobre os assuntos que menos domino mas que desfio com invejável desenvoltura.

Pois bem. O Dedeco também, como eu, é um feio (falo à vontade por isso, somos irmãos na carência de beleza). Era pior, era bem pior, quando tinha 30kg a mais, o que fazia dele o alvo dos indicadores nos salões, "olha lá aquele gordo careca!". E para que vocês vejam como sofre um gordo, depois de perder seus 30kg, o Dedeco deixou de ser careca, nunca mais foi chamado de careca. O "careca" era, ali, um apêndice de sua obesidade humilhada. Hoje ele é um tudo, menos careca. Mas ainda é feio (confessou-me ele mesmo isso, outro dia, quando comentava o fomento de mulheres em seu pedaço depois da dieta bem sucedida).

Eis que o Dedeco descobriu, há semanas, um truque que tem lhe rendido noites de insônia, não por falta de sono, mas por absoluta abundância de mulheres insaciáveis que não o deixam dormir. Vou explicar melhor. Acompanhem, acompanhem!

Temos um amigo em comum, o Branco (esse sim, de uma beleza acachapante). E de um caráter que anda escasso. Vejam se não é: um sujeito que entra no Maracanã lotado, invade o campo, pega o microfone (imaginemos que haja um sem-fio para certas ocasiões) e da marca do pênalti grita "Eu sou amigo do Lennon!" é ou não é dono de um caráter ilibado? É (e o Lennon, para os neófitos, não é o John; é um ex-frequentador do Estephanio´s, unanimidade quando o assunto é vaia).

Mas prosseguindo (antes preciso explicar que omitirei o nome das moças para evitar constrangimentos e processos indenizatórios). Uma noite dessas estávamos eu, Dedeco, Dani, mais uns oito ou nove num buteco na Gamboa. Uma das moças, afoitíssima, a certa altura, de olhinhos já fechados devido à porranca, passou a dizer "quero o Branco...", "quero que o Branco durma lá em casa...", "preciso do Branco...", e o Branco não estava lá, entendam isso. E apalpava o próprio corpo enquanto repetia o santo nome do Branco. Deu-se a luz para o bom Dedeco.

Virou-se pra mim e esfregando as mãos, disse-me: "Edu, vou rebocá-la pra casa depois de oferecer-lhe mais umas doses. Daí, quando seu estado de torpor for visível, eu digo que sou o Branco e papo a moça!". Não acreditei naquele plano pífio. Ainda que a embriaguez da menina fosse olímpica, um carinho na cabeça e aquele terreno plano, liso, denunciaria tudo. Dedeco sorriu e puxou do bolso do casaco que vestia, uma peruca, como a que ele usa na foto que ilustra o texto, usada na festa à fantasia da Guerreira (semelhante aos cabelos do Branco, que além de uma beleza acachapante tem um fartíssimo cabelo. E é, mesmo, o Dedeco na foto, para quem não o conhece). Do outro bolso, Dedeco retirou uma caixinha, com etiqueta de uma gráfica, e disse ainda esfregando as mãos como se uma lâmpada estivesse entre elas, sendo que o gênio, ali, era ele: "Há meses espero por uma oportunidade dessas!".

No dia seguinte, bateu-me o telefone cedo o Dedeco. Chamou-me às pressas para uma cerveja no Rio-Brasília. E lá chegando, deparei-me com um Dedeco que era todo luz. Sorria. Gargalhava. Com os pés pra cima, os braços cruzados na nuca, soltou: "Saca a cena, Edu. Chegamos em seu prédio, de táxi, e eu havia instruído o motorista a despedir-se de mim com um ´boa noite, Branco´. Ela ainda tentou abrir os olhos e disse..."Branco?", e eu só precisei dizer "sim, gata". E beijei-a na rua, entramos no edifício, nos despimos ainda no elevador e o troço foi até às seis da manhã. Tomei um banho e deixei um cartão igualzinho a esse sobre sua cabeceira...". E ria, ria, ria, o Dedeco.

O cartão, que o Dedeco mandou fazer numa gráfica na Rua da Carioca, dizia apenas "MÁRCIO BRANCO". No cartão de linho, Dedeco como um bom instruído nas questões de etiqueta tascou um risco sobre o nome "BRANCO", deixando a intimidade à mostra. E escreveu atrás, disse-me ele, "Chame-me sempre que quiser, gata, foi maravilhoso. Tive de sair cedo para tomar café da manhã com minha mãe. Beijos, Branco".

Branco já sabe de tudo e Dedeco contabilizava, até ontem à noite, oito vítimas. Todas, rigorosamente todas frequentadoras do Estephanio´s.

Um mágico, esse Dedeco, incríveis, esses seus truques.

Até.

Posted by Hello

3 comentários:

Anônimo disse...

Rigorosamente verdadeiro o Edu quando diz que o André era muito mais feio 30 Kg mais gordo. O furor que atualmente ele causa nas hostes femininas é uma total surpresa para os amigos mais íntimos, uma vez que ele sempre foi um cara na gente boa e na dele, nem de longe essa piranha em que ele se converteu. Era de se esperar que um dia ele usasse a sua grande inteligência para obter o maior número de mulheres possível, só não pensei que fosse de forma tão desonesta e vil. Atualmente eu e o Edu só o chamamos de embusteiro, embora não nos lembremos - devido ao nosso estado no dia - qual de nós dois criou o apelido.

Anônimo disse...

O Dedeco é tudo de bom! Me orgulho em fazer parte da sua vida. Um segredo...ele sabe beijar como poucos! hoje em dia é raro homens que beijem bem e ele é mestre nisso!

Anônimo disse...

Edu, vamos ser justos, o beijo do BRANCO também é tudo de bom !!!!!