5.8.05

MAIS UMA DO ABELHA

Um pedido feito pelo meu Otto 24h por dia, meu irmão Szegeri, é uma ordem. Mais que uma ordem, é uma pauta a ser cumprida. E como o bom pediu-me que lhes contasse sobre a história do Abelha envolvendo um outdoor de autoria do Ziraldo, vou fazê-lo.

Não sei se vocês vão se lembrar, vocês aqui do Rio, mas há uns anos a Prefeitura lançou uma campanha contra as drogas e chamou o Ziraldo pra bolar um slogan, um outdoor, e espalhou a coisa por toda a cidade. A mensagem era, apenas, a seguinte: "A DROGA É UMA MERDA". Eu, particularmente, que não faço uso delas, salvo o álcool, que é legal, achei a frase de uma infelicidade olímpica. Pelo simples fato de que, não fossem as drogas um troço bom, e ninguém faria uso delas, ainda que pela dependência. As descrições que conhecemos, todas, apontam pra um troço fabuloso, delirante etc etc etc Mas isso não importa pra história. Vamos a ela.

O Abelha, fã ardoroso do Cartas Idiotas, leu, determinado dia, uma carta num jornal cujo teor era mais ou menos o seguinte: "Venho, pela presente, manifestar minha indignação com a campanha lançada pela Prefeitura, de autoria do Sr. Ziraldo, onde o mesmo faz uso de uma palavra de baixo calão. Ontem à noite, eu e minha esposa estávamos indo ao cinema, aqui na Barra, mas quando nos deparamos com o dito outdoor contendo a nefasta palavra decidimos suspender o programa e voltamos, revoltados, para nosso lar.". E assinava a carta, o indignado.

Bem... o Abelha, gozador e sacana há 10 encarnações, discou pro 102 e tomou nota do telefone do sujeito. E eu tenho a fita!, eu tenho a fita! O Abelha, que faz sempre questão de divulgar seus feitos, gravou a conversa:

"Alô?"

"O Sr. Fulano está?"

"Ele falando."

"Sr. Fulano, bom dia!"

"Bom dia. Quem está falando?"

"É da Assesssoria de Comunicação da Prefeitura do Rio de Janeiro. Cláudio falando. É sobre sua carta publicada hoje nos jornais, Sr. Fulano..."

(e o Sr. Fulano, arfando, prosseguiu) "Pois não! Pois não!"

"Gostaríamos de confirmar sua indignação, Sr., para que possamos, efetivamente, modificar o rumo de nossa campanha contra as drogas a fim de não mais causar esse tipo de sentimento na população..."

"Ah, pois não... Um segundo, por favor... Querida! Querida! Venha cá! É da Prefeitura... Pois não, Sr. Cláudio... Posso colocar o telefone no viva voz para que minha esposa possa participar de nosso colóquio?"

"Mas é claro, Sr. Fulano... Como se chama sua esposa? (eu, conhecendo o Abelha, percebia em sua voz a gargalhada abafada)... ... Ah, bom dia, dona Fulana!"

"Bom dia!"

"Mas então... Quer dizer que os senhores ficaram indignados e revoltados com o uso da palavra ´merda´ no outdoor?"

(os dois em uníssono) "Muito"

"Então, por favor... Estão me ouvindo bem?"

"Muito bem"

"Vão, os dois, pra puta que os pariu, pra casa do caralho, seus merdas... estão ouvindo... seus m-e-r-d-a-s, seus merdões, seus merdalhões, babacas..."

E desligaram, os dois, deixando os guinchos do Abelha fechando a gravação. Contou-me, o Abelha, que só cessou a série de telefonemas quando o Sr. Fulano mandou trocar o número de sua linha. Esse é o Abelha.

Fechando, então, a semana, depois de ter contado mais essa do meu bom amigo, quero daqui prestar uma homenagem ao meu irmão Szegeri.

Hoje, 5 de agosto, o Ó do Borogodó, meu buteco preferido em São Paulo, comemora 1 ano de roda de samba comandada pela rapaziada dos Inimigos do Batente, à frente dos sábados da casa desde agosto de 2004, quando rola uma feijoada parelha com as maiores feijoadas que já comi, e também às sextas-feiras, quando recebem, uma vez por mês, um convidado especial. E hoje o convidado especial, aliás, especialíssimo, é Moacyr Luz, há anos, muitos anos, desde quando éramos amigos, e isso faz tempo, o verdadeiro Embaixador da Cidade do Rio de Janeiro, compositor de mão cheia, violão moldado à moda de Hélio Delmiro, cozinheiro sem defeitos, anfitrião competente, sambista já capaz de figurar na galeria dos maiores.

Ergo daqui do Buteco, então, meu copo cheio, à Stefânia e ao Capitão Léo, que conduzem com coração apaixonado o Ó do Borogodó. Ao Szegeri e à Railídia, vozes dos Inimigos do Batente, ambos meus compadres, que deram de presente a mim e à Dani seu maior tesouro, a doce Iara, nossa afilhada número 6. À toda a rapaziado dos Inimigos do Batente, Cebolinha , Edu Batata, Cacá Sorriso, Paulinho Timor, Marcelo Justo, Dil e Mineiro.

E ao Môa - por que não se não guardo mágoas? - que vai abrilhantar a festa, com certeza, mas que também, com mais certeza, vai testemunhar, de novo, que a paulicéia não fica nada a dever ao Rio em matéria de samba.

Até.

5 comentários:

Anônimo disse...

Edu, desconfio que o Abelha seja sua identidade secreta e que esse alter ego seja o responsável pelas Cartas Idiotas - um dos meus blogs favoritos, pena que as cartas cessaram. Bão, o verdadeiro motivo desta é dizer que o Moacir Luz tem um coração de pedra, porra! Já estou ficando puto com ele, porra! Alguém me segura aí, porra, me segura, porra!!!

Eduardo Goldenberg disse...

Zé Sérgio, como bom jornalista que eu sei que você é, não seria prudente afirmar um troço desses sem checar antes. Apresento o Abelha a você na primeira oportunidade.

Moacyr é com "y". Tsc.

Abraço.

Szegeri disse...

Edu, meu irmão, acompanho daqui de Sampa esse brinde amoroso, consignando a falta que você vai fazer. Em meu nome, dos Inimigos e da minha amada Stê, agradeço de todo o coração. Beijo!

Szegeri disse...

Zé Sérgio, Zé Sérgio, já era hora de vc ter aprendido que tudo o que se descreve neste Buteco é a expressão mais lídima, fiel e indeformável dos fatos. Assusto-me cada dia mais com a precisão fotográfica das narrativas, a precisão cirúrgica dos detalhes, a firmeza inabalável de cada golpe de pincel.

Creia, meu bom Zé, que se você acha que já conheceu figuraças suficientes nestes círculos goldenberguísticos, espere até conhecer o Abelha. Só vendo pra crer.

Anônimo disse...

´xô metô o bedelho, Szegeri! A firmeza inabalável de cada golpe de pincel também é um belo golpe de pincel seu. Mas eu concordo com você. Esse figuraça desse Edu não escreve, não. Ele PINTA.