14.2.06

SZEGERI, O BRIGÃO (dessa vez, com razão)


"O escurinho era um escuro direitinho,
agora está com a mania de brigão..."

(Geraldo Pereira)


A foto, genial, é de autoria de Paulo Barbosa, o Cachorro pros íntimos. Satisfeitos os créditos, vamos em frente.

Ontem, quando escrevi sobre a saga que se anuncia para sábado, durante o show dos Rolling Stones, a Patrícia Moreira, freqüentadora assídua do Buteco, escreveu:

"... No final só me pediram para levá-los, no domingo, a um tour pela cidade! Nisto vou com prazer, afinal, se tiver um dia de sol, nosso Rio merece ser mostrado!"

E respondeu o Szegeri:

"Patrícia, querida: se não estiver sol, o TEU Rio não merece ser mostrado? Abraço, S."

Vejam bem. Eu conheço o Szegeri como conheço meu dedão do pé. Com uma intimidade e uma intensidade de 36 anos somados aos nove meses da gestação. O "querida" foi dito com os dentes rilhados, puro deboche. E esse "TEU" maiúsculo foi outro olímpico deboche, eis que se o Rio não é antes dele, de mais ninguém o Rio é. Notem que o Szegeri, ao contrário do que anunciou no comentário que teceu no texto "Meu Caro Amigo", está cada vez mais irritado, cada vez mais propenso ao liltígio, cada vez mais brigão. Mas dessa vez quero anunciar bem alto: com toda a razão do mundo. E vou explicar.

Antes de explicar, brevíssima digressão. Gosto, como ele bem disse na orelha que valoriza meu humilde livre, de defender os amigos quando eles não têm razão. Há, nesse gesto, um prazer indizível. Você sabe, no íntimo, que seu amigo está ali, órfão de qualquer sentido de razão, perdendo de nocaute uma discussão qualquer. E você incorpora o árbitro que conta, não até dez, mas até cem, até que seu amigo levante da lona e possa ser declarado, imerecidamente, o vencedor da contenda. Isso é muito bom. Mas sigamos.

Quando o Szegeri diz à Patrícia o que disse, está tão cheio de razão quanto a foto do Cristo Redentor, que ilustra este texto, de beleza. Quis dizer a moça que o Rio, em dia de chuva, não merece ser mostrado? Parece-me que sim (e mesmo que não parecesse, apenas para dar cores de verdade à virulenta resposta szegeriana, eu diria que sim). Ora, o Rio de Janeiro é uma cidade que dispensa o sol como maquiagem. Se nos dias de céu azul o Rio é uma festa, não deixa de ser uma festa quando chove, ainda que torrencialmente.

Ponho-me, então, a imaginar um dia chuvoso no Rio com meu irmão hospedado em meu chatô na Tijuca.

Acordamos às nove, vá lá. E chove cântaros.

Vamos até a esquina para o café da manhã na Panificação Estudantil, padaria mais conhecida como Fenômeno, onde pedimos ao Assis dois cafés pretos, duas canoas frias com manteiga e uma omelete preparada na hora. Em seguida, não sendo necessários mais do que vinte passos, estacamos diante do balcão do Rio-Brasília, onde nos recebem Joaquim e Teresinha. Pedimos uma Brahma (só bebo Brahma quando meu irmão está aqui) e uma porção de iscas de fígado acebolado. Chove muito, mas nada nos abala. Tomamos o ônibus, uma hora e meia depois, e saltamos, pulando as poças de chuva, na Rua do Riachuelo, na altura da Lavradio.

Sentamos à mesa no Bar Brasil, na mesmíssima mesa cativa do Toledão. Muitos schinit e salsichões com salada de batata. O tempo passa, a chuva grassa, o Rio mostra sua graça e nada, nada, nos abala.

Meu irmão sorri e diz que está com saudades de Vila Isabel. Tomamos o rumo da 28 de Setembro e vamos ao Bar do Costa, onde chove ainda mais. Pedimos mais garrafas de casco-escuro, meias porções de bolinho de vagem e lombinho fatiado com limão. Bate, agora, saudade do Buba. E vamos ao Morro dos Macacos. Meu compadre desce, vai à tendinha, compra mais cerveja e ficamos ali, os três, na janela, bebendo e vendo o Rio sem sinal de sol (mas faz, em nós, um sol de 40 graus).

Descemos a pé. Passamos na casa do Dalton, encharcados de chuva e de vontade de ver o malandro. Tomamos um táxi, pequeno luxo que nos é permitido vez por outra, e vamos à Adega do Peixoto. Carne de sol, cachacinha, muito papo, está anoitecendo mas nem percebemos. O Szegeri, como sempre, diz que quer ir ao Estephanio´s. E vamos. Encontramos Fefê (esqueci de dizer que estamos numa sexta-feira). Ficamos ali, naquela esquina, e encontramos Vidal, a Lenda, seu Osório em dia inspirado, Márcio Branco e sua beleza acachapante, e às quatro da manhã a feira começa a ser armada, as frutas chegando encaixotadas, o caminhão de peixe estaciona e o Szegeri compra quatro quilos de camarão propondo um almoço na casa do Fê.

Bate sete horas e faz sol.

Dispensamos a praia, residindo aí, nessa dispensa, a prova inabalável de que o Rio não precisa do astro-rei.

O almoço vai ser às quatro, cinco da tarde. Faremos novos planos, novos gols pela linha de fundo, dando um destino ao mundo que nem sei dizer.

Até.

PS: como ando em tempos de intensa interatividade - no que colido de frente com o Szegeri, um Borba Gato em termos de facilidades tecnólogicas - eis meu email, que jamais forneci, para quem quiser trocar umas idéias, e meu username no MSN, uma praga que tem se mostrado útil: edugoldenberg@terra.com.br

9 comentários:

Szegeri disse...

Obrigado, querido. Sinto-me, às vezes, um pouco cansado. E não tenho dez por cento desse talento para dizer as coisas. Beijo.

Szegeri disse...

Outras coisinhas, meu irmãozinho: 1) é a minha mais profunda serenidade que tem-me permitido exercer aquilo que eu acho a única forma possível de existência social: a polêmica, o debate, a dialética, a dialógica, ou como se quiser chamar. 2) usas o "dessa vez" e agora eu entendo por quê; mas, no fundo, sabe que eu SEMPRE tenho RAZÃO. Ainda que, por óbvio, não esteja sempre certo. Beijo.

Anônimo disse...

Edu, acho que vc não leu a minha resposta ao Sze no texto de ontem, mas tudo bem, rolou a "inspiração" para hoje! É o que vale!

Sze,
Não gosto, sinceramente, do "Patricinha". Soa-me muito preconceituoso. E vc, realmente, não me conhece para tanta "intimidade", não é? rs

Bem, posso apenas dizer que fiquei muito feliz em saber q vc é tão carioca quanto eu ou o Edu e que sua "pergunta" foi só ironia.

Ah, é bom frisar que não tenho nada contra os paulistas, mas normalmente a "pergunta" que vc me fez, são vindas, quase sempre, de alguns paulistas que odeiam o Rio e que procuram sempre rebaixá-lo.

Talvez nós estejamos debatendo em vão, afinal, tudo o que eu quis dizer, porém, expressei-me erradamente ou de forma dúbia, é o mesmo que vcs, ou seja, o amor incondicional ao RIO DE JANEIRO!

Desejo que vcs fiquem em paz, assim como o Rio de Janeiro!

Anônimo disse...

Du , faltou dizer que a Panificação Estudantil , a FENôMENO , quem te ensinou a " fazer uso dela " fui eu !!!!

juliana amaral disse...

Edu e Fernando: estou me segurando pra dizer já há algumas mensagens... invejo profundamente a amizade masculina.
beijos feminis pros dois
ju

Szegeri disse...

Patrícia: só usei o diminutivo porque você usou uma apócope em relação ao meu nome. Se intimidade não há, é certo que de parte a parte.

Juliana: ah, Juliana... grandes mulheres não tem nada a invejar-nos. Pára com isso. Beijo.

∫nês disse...

Ai que saudades do Cristo "Flutuante"!!!

Eu é que fico a flutuar e nas nuvens quando penso na Cidade Maravilhosa, sempre linda e resplandecente, faça chuva ou faça sol. Mesmo que o céu desabe, há sempre o sol do sorriso dos Cariocas :)

Anônimo disse...

Szegeri,
Usasse, então, Pat
Este sim me parece mais adequado e menos preconceituoso.

Eduardo Goldenberg disse...

PQP!

Não estou acreditando que a discussão continua!!!!!

Vocês dois, meu irmão Szegeri e Patrícia Moreira não se conhecem e não dividem intimidade.

Mas esse treco, que é um Buteco, permite quase-tudo, pô!

Então, Sze e Patricinha, ou Szegeri e Patrícia, ou Fê e Pat, porra!, chega!

Até porque se eu for instado a me manifestar darei a razão, sempre, ao meu irmão paulista, o mais carioca de todos. Então, queridos, está dada por encerrada a contenda.