26.6.06

E O POMPA FEZ ANOS

E eis que chegou mais um 24 de junho, dia em que dá-se o impossível, e explico. O Szegeri, meu irmão paulista, o Pompa, faz anos. "E o que tem de anormal nisso?", dirão vocês. E eu respondo de pé, indignadíssimo com a falta de sensibilidade alheia:

- Tudo! Tudo! Tudo!

Vou tentar ser didático, o que também me parece impossível.

Não sei se vocês já ouviram falar da Harriet. A Harriet era - morreu na semana passada com 175 anos - a tartaruga mais velha do mundo.

"E o que tem o Pompa a ver com a Harriet?", insistirão os insensíveis.

- Tudo! Tudo! Tudo! - respondo ainda mais indignado.

O Pompa quando faz anos parece debochar do Tempo. O Pompa, quando posta-se atrás do bolo e sopra as velinhas coloridas ao som do "é pic, é pic, é pic, é pic, é pic, é hora, é hora, é hora, é hora, é hora, rá-ti-bum, Pompa! Pompa! Pompa!" eu sinto-me diante de uma assombração.

O Pompa tem, já disse isso incontáveis vezes, como aqui, séculos de vida, o que faz da Harriet (mesmo depois de morta), por exemplo, um bebê ainda antes dos primeiros passos. Por exemplo, leiam isso:

"Não sei se vocês já captaram a razão do meu choque praticamente anafilático e quase fatal. Fernando José Szegeri já foi criança.

Vejam bem uma coisa. Para mim, que o conheço já há uns 10 anos, o Szegeri nasceu da forma como é hoje.

Barbado. Peludo. Gordo. Já funcionário público e já sonhando com a aposentadoria. O Szegeri, para mim, foi contemporâneo do Borba Gato, o bandeirante paulista. Foi, conta a lenda (que repete-se até hoje), o que mais chorou quando enterrou o amigo, a quem chamava de Borbinha, em 1718. Em 9 de janeiro de 1822, foi Fernando José Szegeri quem deu uma força a D. Pedro I para que ele se mantivesse no Brasil contrariando as ordens das Cortes Portuguesas. Daí meu choque, absoluto, diante dessa confissão."


Eis aí, nesse trecho, o que explica meu choque quando vejo meu pomposo e dileto amigo comendo brigadeiro e batendo palminha.

bandeirinha de São João sob o céu de São Paulo

Como todos sabem - afinal minha vida é um livro aberto - estive com a Dani em São Paulo para o aniversário do Szegeri e da Iara, uma de nossas afilhadas.

Eu tinha - tenho, na verdade, mas em vão... - muito para lhes contar.

Encontrei muita gente boa, vi e vivi situações hilariantes que renderiam boas histórias, tenho mais de 100 fotografias, enfim... Tudo para que o Buteco, ao longo da semana, pudesse render.

Mas eis que no instante da despedida meu pomposo e barbudo amigo põe as duas mãos nos meus dois ombros.

Aperta-me os omoplatas com intensidade.

Aproxima a boca de meu rosto.

Cofia aquela barba cerradíssima como a Amazônia em priscas eras.

E diz bafejando a centímetros de minha boca aberta de medo:

- Não dê um pio no Buteco sobre nada, entendeu, Eduzinho?

Nem respondi.

Mas cumpro, como se lê.

Até.

6 comentários:

Anônimo disse...

Que bom, Edu, sou então a primeira a reparar que a sua linda (aquele estropicio de noveladaglobo me faz censurar o uso do hiperlativo belis...)fotografia é um autêntico Volpi?

Anônimo disse...

Aliki, muito boa sua observação :-)

Parece mesmo com um quadro de Volpi.

Mas é um quadro do Edu :-)

Eu sempre disse que ele é um grande pintor, pois seus textos são quadros de tão nítidas que são as imagens que ele imprime em nós.

Anônimo disse...

O Edu dá pra pintor

Anônimo disse...

Lendo essas histórias aqui relatadas, fico imaginando o que todas estas figuras juntas estariam fazendo se estivessem na Alemanha agora..rsrs
Ia faltar cerveja...
Um abraço!

Anônimo disse...

ai, que romântico...

Szegeri disse...

Ô, Dinda, não sei se o Edu dá pra pintor ou não. Mas continua acirrada a disputa pelo seu pincel.