6.6.06

PORTUGAL, A SAGA - PARTE I

Rio, 25/05/06, 5a. feira e Lisboa, 26/06/06, 6a. feira

Chegamos no Galeão às 15h, depois de agradabilíssimo almoço no Salete com a Inês, Guerreira, Betinha e Maria Paula. Chegamos às 15h, chek-in feito às 15h20min - pontualidade impressionante, como papai ensinou-me - e eu já sofria de forma intensa. Aliás, confessei isso à Dani ainda na fila do chek-in; sofro há 2, 3 dias, por conta disso, da viagem, do ausentar-me, da saudade que já tenho de tudo e de todos.

Com uma hora ainda antes do efetivo embarque, o que fiz? Bati o telefone - a cobrar! - pro Szegeri. O Pompa foi gentil, compreendeu que eu não devia estar bem, e falou comigo por uns 10min, e com a Dani. Embarcamos. Tão logo sentei-me pus os auriculares (já estou, integralmente, em Portugal) e selecionei o canal 03. Tocava fado. "Meu amor é marinheiro e mora no alto-mar, coração que nasceu livre não se pode acorrentar..." e eu comecei a chorar de maneira olímpica, atraindo olhares da assistência e Dani, tadinha, fazendo festinha em minha mão. Por que eu sou assim? E por que logo depois de cantar "Meu Amor é Marinheiro" Cristina Branco começa a cantar "Que Fazes Aí Lisboa?". Eu dano de chorar e entrego os auriculares à Dani. Se o vôo correr bem eu preciso também chegar bem. Mas como me comove o fado! E como acabo de antever uma viagem emocionadíssima!

Lá vem um membro da tripulação servir bebidas. Peço vinho tinto. Estou morto de fome se sem noção das horas. Não tenho, como sempre, um único relógio. Bate-me uma dúvida estúpida: nesses tempos modernos, onde tudo é digital, em 10 anos uma criança saberá o que são ponteiros? Volto a pôr os auriculares. Volto ao canal 03. Lá está a Cristina Branco de novo. Obrigo a Dani a ouvir. Eu choro de novo. Lembrei-me, agora, da Inês chorando abraçada comigo no Salete pedindo que eu dissesse a seus pais o quanto ela os ama. Vou dizer, é evidente. Mas temo chorar diante dos dois. Por que eu sou assim? Já tenho saudade da Inês, que assim defini pra Betinha, ontem, no Rio-Brasília: a Inês é de uma franqueza de ternura tão intensa que conquistou-me, assim, em tão pouco tempo.

Continuo com fome. Dani saca da bolsa um pacotinho de biscoito. Devoro tudo.

A fome ainda está aqui. Vem o jantar. Pãezinhos, biscoitos, uma salada de ricota com milho, arroz com charque, doce de banana, mais vinho tinto, e agora um sono tremendo me diz olá.

Dormi, dormi, dormi.

Fui acordado já a 1h30min de Lisboa para comer. Tudo péssimo, mas com fome até o sofrível é banquete.

Pousamos às 6h45min, 2h45min no Brasil.

Céu azul. 18 graus. O avião mal para e a tropa toda de pé, e eu não compreendo o por quê disso. Mantenho-me sentado tentando calçar os tênis nos pés inchadíssimos. Saímos, fizemos a imigração, recebemos o visto e fomos parados para a revista das malas. A revista foi mal feita e passamos com o queijo que tínhamos para a Cidália.

Tão logo saímos para o saguão e vem a Cidália:

- É claro que eu reconheceria esse sorriso! - diz à Dani.

E vem o Próspero, por trás de mim:

- Goldenberg! - fazendo referência à camisa do Flamengo que eu vestia, com meu nome às costas.

Tomamos o rumo de Setúbal, passamos pela impressionante Ponte Vasco da Gama, eles dois atenciosíssimos, mostrando-nos tudo, e eu antevi um ótima estada. Chegamos à casa. Muito aconchegante, mostraram-nos tudo, e nosso quarto, ex-quarto da Inês, tinha toalhas, roupão, tudo com comoventes provas de carinho. É a tal coisa: pelo fruto se reconhece a árvore. A Inês não é doce à toa.

Cidália, Próspero e eu ficamos de conversa na cozinha enquanto Dani tomava banho, e fui eu ao banho tão logo a Sorriso Maracanã chegou sorrindo.

Dani, Próspero e Cidália em casa


Nós três fomos para um passeio a pé pela cidade enquanto a Cidália anunciava uma ida ao mercado para comprar coisas para preparar o almoço. Encheu-me a boca d´água.

Andamos pela parte antiga de Setúbal e impressionou-me, mais, a Rua Arronches Junqueiro, antiga Rua São Sebastião, com um casario lindíssimo - o prédio do jornal "Setubalense" é muito bonito. Fomos à Praça du Bocage, à Igreja de São Julião, e paramos para dois imperiais (chopes), TARGOS, 80 cêntimos cada. E foi o Próspero que pagou.

visão da Rua Arronches Junqueiro


Fomos ainda ao Museu de Setúbal, com tetos, pisos e capela em estilo barroco, muito bonito, também chamado Casa do Corpo Santo, datado de 1714, edifício exemplar do barroco em Setúbal, com revestimentos de azulejo, o chão alternando a tijoleira com azulejos de figura avulsa, tetos pintados e uma pequena capela totalmente forrada à talha dourada. Serviu de instalação à importante Confraria de Pescadores Navegantes e Armadores de Setúbal, existente desde 1340, depois à Confraria do Corpo Santo, nome pelo qual era conhecido Santelmo ou São Pedro Gonçalves, orago da Confraria e santo protetor dos náufragos. Com o desaparecimento desta Confraria o edifício alojou variados organismos ao longo de sua história mais recente, mas sempre ligados a associações marítimas.

visão do teto do Museu de Setúbal


Fomos à Catedral da Sé, ao miradouro (mirante) e ao Convento de Jesus datado de 1490.

Chegamos de volta depois de 2h de caminhada e a casa cheirava que era uma beleza.

Há, sobre a mesa, bolinhos de bacalhau e empadinhas de frango feitos pela Eduarda, irmã da Inês, que saiu para buscar o marido para almoçar conosco. O prato? Arroz de pato e de sobremesa leite creme (minha boca parece uma cachoeira).

visão da mesa do almoço


Chegaram Eurico e a Eduarda, a Crespita!!!!! E tome de confirmação do tal ditado: a Crespita é outro doce, tal como o Eurico, que bebe como nós!

Eurico, Dani, Eduarda e eu


O arroz de pato estava delicioso, divino, a conversa agradabilíssima... mas a surpresa por vir.

Após o almoço, regado a duas garrafas de vinho da região do Dão, ano 1992, veio à mesa um queijo Serra da Estrela! E, confesso, segurei-me. E o Próspero, orgulhoso, vem à mesa com um tinto, safra de 1974, Carvalho, Ribeiro & Ferreira, Garrafeira, e as sobremesas, o leite creme e uma torta de amêndoas feita pelo Eurico, que estava divina. Ficamos de papo, fizemos os planos de viagem e estamos saindo para Sesimbra. Antes, porém, Cidália traz à mesa um vinho do Porto, de família, que tem - pasmem - 80 anos. Sem comentários. Mas vão vocês tendo noção do tratamento.

Saímos de carro, passamos pela Vila Nogueira do Azeitão, pequeno vilarejo, em direção à Sesimbra, onde há uma bela praia e uma vila de pescadores.

visão de Sesimbra


Depois em direção ao Castelo de Sesimbra, à Igreja Nossa Senhora do Castelo, datada de 1721, ao Cabo Espichel, de uma beleza e de uma imponência impressionantes, com penhascos e falésias bem abruptos. Os romanos chamavam o lugar de Promontorium Barbaricum referindo-se ao risco de sua localização, bem no extremo do continente, com uma igreja do fim do século XVII, de costas para o mar, ladeado por uma fileira enorme de alojamentos para peregrinos, ao Portinho da Arrábida (Dani amou intensamente o lugar), ao Convento da Arrábida, paramos para ver a Península de Tróia, uma vista belíssima, uma baía de águas claras e eleita uma das mais lindas do mundo, segundo nossos anfitriões, e ainda vimos as praias de Galapos e da Figueirinha.

Cabo Espichel



Portinho da Arrábida


Voltamos pra casa, cansadíssimos, e Cidália preparou, para o jantar, truta salmonada com batatas assadas acompanhada de esparregado de nabiça, que eu nunca comi mas amei. Bebemos vinho verde, Loureiro, 2004, duas garrafas, tornamos a beber o imponente vinho do Porto, Inês ligou, foi uma festa, falamos todos, ficamos de papo até quase 1h e fomos dormir. Belíssimo primeiro dia. A viagem promete.

truta salmonada no tempero


Todas as 89 fotos do primeiro dia de viagem estão aqui.

Até.

Um comentário:

∫nês disse...

Edu... choro ao reler este relato.

Saudades, de tudo e de todos, do que não vivi... muita saudade!