15.8.06

AS COISAS SIMPLES - PARTE I

Como prometido, prossigo hoje o assunto de ontem, quando contei, tristíssimo pela angústia da busca e felicíssimo pelo achado, sobre a dificuldade que foi encontrar um simples e húmil radinho de pilha. E conto hoje dois episódios envolvendo o radinho de pilha, o meu radinho de pilha, uma vez que os episódios aconteceram quando eu já tinha o Motobrás comigo.

O primeiro: eu chego em casa como uma criança com o radinho de pilha na mão. Dou de cara com o Szegeri na sala - passou uma semana no Rio de Janeiro, o Pompa - e vejo aqueles olhões úmidos diante da visão da relíquia. Abraçou-me comovido, tomou o radinho de minhas mãos, olhou, farejou, tocou, beijou o Motobrás e disse fungando:

- Quando chegar em São Paulo vou comprar um igual.

O segundo: estou no Maracanã no sábado passado, Motobrás colado ao ouvido, um sorriso permanente em minha boca - com licença, Aldir - quando passa por mim o Alexandre. Passa por mim, estaca diante de mim e grita com sua voz de trovão:

- Um radinho de pilha?!

Eu já levanto chorando. Abraço o Alexandre, entrego a ele o Motobrás ligado, e repete-se a cena: ele olha, fareja, toca, beija o Motobrás e diz fungando:

- Edu, meu caro, me perdoe a imitação, mas na segunda-feira vou comprar um igual!

Eu, tomado pela emoção, disse:

- Escuta. Não compra, não. Eu faço questão de te dar um de presente!

E abraçamo-nos com o Motobrás entre nós.

Dito isso, em frente.

Os dois episódios são extremamente significativos. E vou explicar.

Os dois episódios nos tornam irmãos na nostalgia, nos tornam irmãos na saudade de uma forma de existência que vai desaparecendo, e explico mais, explico mais!

As coisas simples, como as casas com cadeiras na calçada e uma fachada escrito em cima que é um lar, estão sumindo, e sumindo mesmo.

Vejam.

sorvete napolitano

Deixemos de lado o radinho de pilha, que ilustra bem essa angústia e essa busca desenfreada pelo simples e falemos de sorvete. Sorvete? É. Sorvete.

Fui ao supermercado na sexta-feira a pedido da Dani:

- Traz uma caixa de sorvete napolitano! - disse minha garota.

Reside na minha busca alucinada pelo sorvete napolitano - e também pelo de chocolate, que eu queria para mim - a morte das coisas simples também no setor das guloseimas (que é uma palavra em desuso, perfeita para o enredo de hoje).

Há nas prateleiras e nas geladeiras dos mercados uma aridez impressionante e angustiante de sorvetes simples: chocolate, flocos, creme, napolitano... São dificílimos de achar!

O que há, então?

Sorvete de côco com raspas de abóbora e lâminas de hortelã. Sorvete de pistache com gotas de chocolate meio-amargo. Sorvete de manga Tommy com patê de rúcula selvagem. E por aí vai.

Há um atropelo revoltante das coisas simples, das coisas primitivas que sempre nos bastaram. E há o surgimento de sorvetes - estamos falando de sorvetes - caríssimos em detrimentos dos baratos, mais gostosos, mas mais simples, e deve ser desse "mais simples" que as pessoas querem fugir em busca da adeqüação às regras sujas que o marketing impõe. As pessoas que querem estar na moda. Que querem estar in.

"Mais um exagero do Edu", ouço daqui as críticas.

Pois dêem tempo ao tempo.

Amanhã volto ao tema. Com mais provas robustas de que estou sendo preciso, de novo.

Até.

3 comentários:

Anônimo disse...

EDU!!!!EDU!!!!EDU!!!!
O JOTA VOLTOU TERRÍVEL, SUPER EM FORMA!!!!
NA COLUNETA DE HOJE!!VEJA A FOTO!!VEJA A FOTO!!!
FOTOGRAFOU UM ATOR DA GLOBO DE BICICLETA,E ASSIM, COMO QUEM NÃO QUER NADA,"INFORMALMENTE", VEJA O QUE SAIU ATRÁS DO ATOR!!!!NUM CLIMA BEM "INFORMAL"!!VEJA!!!VEJA!!!
OBS.:FOTO DO ATOR MARCOS CARUSO DE BICICLETA!

ABRAÇOS!!

CAIO

Eduardo Goldenberg disse...

Caio: eu já havia visto, evidentemente, como faço todas as manhãs, mas agradeço demais não apenas o seu aviso mas principalmente a sua manifesta indignação contra esse lixo de jornalismo que tenta fazer o lamentável Jota.

Como estou dedicando a semana a falar das coisas simples, e como amanhã trataria justamente dos butecos - tratarei disso, melhor dizendo - preferi deixar para postar o décimo-sétimo atentado do Jota hoje à noite.

É nojento, meu caro.

É muito nojento.

Como é nojento o silêncio que fazem os editores do jornal O GLOBO, visivelmente pior a cada dia.

Ah, sim.

E amanhã eu ponho, atendendo a um pedido seu - obrigado de novo! - as fotos do glorioso Motobrás!

Abraço forte.

Anônimo disse...

Nossa Edu, dessa vez o Jota exagerou, cara!
Estou doido para ler seu texto sobre isso
:-)