5.3.07

SZEGERI NO RIO - PARTE I

Antes de mais nada sinto-me na obrigação de, já no dia cinco do mês em curso, anunciar, de pé diante do balcão imaginário, que o mês de março será inteiramente dedicado a essa figura pomposa, eloqüente, magnífica, que é o Szegeri. Bufarão meus inimigos muxoxando:

- Mas de novo?

E eu gritarei de volta:

- De novo e sempre! Sempre!

Tomem nota, por exemplo, do que foi a chegada do Szegeri à cidade. E, mais do que isso, vejam como eu não minto nem exagero quando digo que sou submetido às mais variadas humilhações, que o Szegeri faz de mim um joguete, um pau-mandado, num exercício que, seguramente, dá a ele alguns instantes de prazer.

Bateu-me o telefone às nove da manhã de domingo:

- Pegue-me às dez e dez no Santos Dumont. - foi apenas o que ele disse.

Eu ainda tentei imprimir um diálogo:

- Dez e dez?

E ele, fino:

- É, caralho! Tá surdo?

E desligou.

Meus poucos mas fiéis leitores, construam a cena e imaginem o cenário. Estava eu no saguão do Santos Dumont às dez e dez, em ponto. Não eram dez e cinco, dez e nove, nem tampouco dez e onze. Às dez e dez estava eu, excitadíssimo com a chegada desse portento, de pé diante da sala de desembarque. Sala de desembarque que, diga-se, estava vazia, às moscas. Esperei um pouco, dois, três minutos, algo assim - eu sentia que alguém me observava - e não agüentei. Bati o telefone pro Szegeri. Agora, por favor, além da construção da cena e do cenário, imaginem a trilha sonora.

Eu liguei uma, duas, três vezes, o Pompa simplesmente não me atendeu. Atendeu-me na quarta tentativa. Mas não me disse o esperado "alô", não me disse um "oba", um "olá", nada. Riu. Gargalhou estrepitosamente. Eu disse, tímido:

- Onde você está?

E ele, ganindo, diminuindo a intensidade da gargalhada:

- Venha, já, me buscar no Hotel Ferreira Viana.

Hotel Ferreira Viana

Eu fui. Eu fui eis que a um homem como eu, temente, a obediência olímpica faz companhia.

Cheguei no Catete em questão de minutos. Entrei, de solavanco, na recepção do hotel e disse, humílimo, à recepcionista:

- Bom dia, senhora... Por favor, a senhora sabe me dizer se chegou, há pouco, Fernan...

E ela me interrompeu:

- O Nando? De São Paulo? - e suspirou...

- É.

E ela, lânguida, de olhinhos fechados:

- Chegou...

- A senhora o conhece?

Nostálgica, fazendo festinha no próprio rosto, ainda de olhos fechados, ela respondeu:

- De outros carnavais...

Eis que ouço a pomposa voz acompanhada pelo som dos passos na escada do velho hotel:

- Literalmente de outros carnavais! Literalmente!

O Szegeri, frio como um freezer, estendeu-me a mão e me apresentou ao Deco, seu companheiro de viagem, e ao Leo Gola, como se eu não o conhecesse. Ele sim, o Capitão Leo Gola, foi de uma euforia comovente quando me viu, o que me comoveu sobremaneira.

Tentando conquistar a simpatia szegeriana, eu disse com a mão pousada no ombro do Szegeri:

- Vamos?

Ele girou no próprio eixo pra se livrar da minha mão - eu notei o olhar de nojo - e disse:

- Salete!

Leo Gola, Szegeri e Deco no Salete, 04 de março de 2007

E lá fomos nós pra Tijuca, pra minha amada e leal Tijuca.

É preciso fazer brevíssima pausa para explicar um troço fundamental para a compreensão de tudo.

O Szegeri veio ao Rio com um único objetivo.

Só de pensar em escrever qual é o tal objetivo, o que farei no parágrafo seguinte, tremo de medo, tremo de ciúmes. Medo porque aproxima-se o instante em que duas entidades se conhecerão pessoalmente (eles trocam dúzias de emails diariamente), e eu tenho certeza de que o mundo jamais será o mesmo depois do encontro. Ciúmes porque ninguém no mundo mais cimento e possessivo do que eu.

O Szegeri veio ao Rio para conhecer o Simas.

Trouxe, a tiracolo, o Deco e o Leo Gola. E eu, ciumento, tratei de perguntar na primeira oportunidade, durante o xixi do Szegeri:

- Leo, Deco... Vocês vieram a passeio?

Os dois se entreolharam e fizeram que não com a cabeça. E em uníssono:

- Viemos conhecer o Simas.

Fui, ali, um ferido de morte.

Mas fingi que nada acontecera.

O Leo anunciou que estava de dieta, razão pela qual bebemos, então, apenas 24 chopes e comemos 4 empadas. E isso, meus poucos mas fiéis leitores, antes da onze da manhã! O domingo prometia!

Do Salete partimos em direção ao meu château. Resgatamos a Sorriso Maracanã - e o Szegeri foi de um carinho olímpico com minha garota... - e partimos para a zona sul.

Tínhamos, eu e Dani, um plano ardiloso: levá-los à praia.

Dani no Bar Lagoa, 04 de março de 2007

Antes, porém, demos uma passada no Bar Lagoa.

Leo Gola e Deco, embevecidos com a beleza do lugar, faziam "ohs" e "ahs" pra deleite do Szegeri que, de queixo erguido, assumia poses de dono do pedaço.

E foram mais 28 chopes no Bar Lagoa, acompanhados de uma porção de salsichão branco com mostarda preta, até que decidimos: praia!

O Szegeri, para ser coerente com a pose de "quem-manda-aqui-sou-eu", pagou a conta sozinho.

E com um detalhe arrepiante: chorou, copiosamente, enquanto escrevia a palavra RIO, na folha do cheque. Um emotivo, o Pompa.

cheque assinado pelo Szegeri no Bar Lagoa

Seguimos em direção à praia de Ipanema.

Eu e Dani fomos ao mar e deixamos os três no calçadão, num quiosque, bebendo, evidentemente. Encontramos o Fefê na praia. E notem o poder do Szegeri. Eu disse:

- Fefê, vamos beber lá no quiosque?

- Tá maluco? Com um sol desses, um marzão desses? Nunca! Nunca! Não saio daqui por nada!

Fui ao mar e disse, quando voltei:

- Vou lá, então...

- Tchau! - ele disse espalhando protetor solar no rosto.

- ... beber com o Szegeri.

- Com quem?

- Com o Szegeri.

O Fefê parecia um guepardo.

Lançando areia sobre todos os banhistas, em questão de segundos lá estava meu irmão bebendo ao lado do Szegeri.

Cheguei e dei de cara com o Capitão Leo Gola, que já havia bebido uísque enquanto esperávamos a Dani, sorvendo uma dose do tamanho do mar de Ipanema. E dizendo de olhos marejados:

- Quero morar no Rio! Quero morar no Rio!

É preciso fazer nova pausa.

O Capitão Leo Gola, ele sim, é dono de uma beleza capaz de acachapar o Branco. O Branco, a bem da verdade, se comparado ao Leo Gola, é um feio, um Edu.

Voltemos ao relato.

Leo Gola, Deco e Szegeri na praia de Ipanema, 04 de março de 2007

Da praia tomamos o rumo do Estephanio´s. O objetivo era vermos o primeiro jogo da final da Taça Guanabara entre Flamengo e Madureira. Sem comentários.

Findo o jogo seguimos para o Bar do Costa. E a trupe aumentada: eu, Dani, Szegeri, Leo Gola, Deco, Betinha com o pai, Paulo Roberto, e Janis e Marquinho.

Bebemos, comemos, jogamos muita conversa fora, até que o Szegeri - sempre ele - deu a ordem:

- Vamos todos pra casa do Fefê.

Ninguém - eu disse ninguém! - ousou discordar.

E lá fomos nós, sob a luz da lua da zona norte, a mais bonita da cidade.

Bar do Costa, 04 de março de 2007

Invadimos, como bárbaros, a casa do meu irmão.

O Szegeri, só pra me provocar, ia entrando na vila falando em voz alta com o Deco e o Leo Gola:

- Ele não puxou ao irmão mais velho... Vocês vão ver! O Fefê é o maior, o maior de todos, o maior ser humano que eu já conheci!

Dizia isso e olhava pra trás, em minha direção, e ria.

E eis que na casa do Fefê deu-se o ápice do dia.

Foram algumas garrafas de Red Label, muita cerveja, pipoca, um tira-gosto aqui, outro ali, o sossego entre casas simples com cadeiras na calçada, e o meu mano paulista, comovido, os olhões úmidos, dizendo aos companheiros de viagem:

- Estão vendo como a violência no Rio é assustadora? Estão vendo as casas gradeadas, as pessoas com medo, estão vendo, estão vendo?

visão da vila onde mora o Fefê

Ele, o pomposo Szegeri, ele, sim, o maior ser humano que já conheci, fica em terras cariocas até amanhã à noite.

Hoje, provavelmente, e provavelmente na Tijuca, promoverei o encontro desses dois monstros, Szegeri e Simas, dois brasileiros máximos, cariocas maiúsculos, e amanhã lhes conto tudo.

As fotos de ontem podem ser vistas aqui.

Até.

6 comentários:

Anônimo disse...

Edu, cê fala pro Szé que mandei um beijão pra ele? Eugênia.

Beatriz Fontes disse...

Gente, o Simas tá que tá, hein!? Mó prestígio...

Eduardo Goldenberg disse...

Eugênia: evidentemente que sim! Pode deixar.

Beatriz: o Simas também queria ir a SP apenas pra conhecer o Szegeri, mas eles preferiram promover o encontro aqui mesmo. Ambos, um e outro, são portentosos. O eixo da Terra sofrerá abalos hoje. Conto tudo amanhã!

Unknown disse...

Cacetada, vou perder mais essa.

Edu, belo texto, malandro!

4rthur disse...

Então a noite promete! Se o lance for do magnetismo que você evoca mesmo, é capaz da lua fazer que nem sábado à noite e se esconder de novo.

Em tempo: quinta à noite, no Estephanio's, encarando portentosos copos de cerveja e doses douradas de tequila gold, tive que quebrar o pacto de sobriedade que fizera comigo mesmo. E, pelo seu texto, suponho que você trilhou semelhante caminho...

Anônimo disse...

Hahahaha...
Já aguardava esse texto depois de saber que meu (nosso!) mano tinha desembarcado aí.
E a farra foi grande como já era de se esperar também!
Beijoca