4.9.07

SALVE, JÚNIOR!

No dia 25 do mês passado, quando o quadragenário Rodrigo Ferrari comemorou, é óbvio, quarenta anos, na festa pública que houve na rua do Ouvidor - como lhes contei aqui - um dos presentes me fez, em questão de segundos, voltar a ter nove anos de idade, vestindo calças curtas e camisa de malha listrada, sandália de dedo e olhos brilhando.

Pausa: eu disse festa pública porque houve, no dia 28, dia exato de seu nascimento, a festa privada, mais fechada que cabaço de Honório Gurgel, para uns poucos eleitos, não mais que vinte. Eu poderia, aqui, dar o nome de um por um, mas o próprio Digão me fez o apelo quando despedimo-nos naquela noite chuvosa de terça-feira:

- Edu... Não conte nada sobre essa festa, ok? Não quero magoar a quem não chamei...

E pra rimar, eu gritei no corredor de mármore, fazendo eco:

- OK!

Dito isso, em frente.

Eu dizia que um dos presentes me arremessou, numa guinada, num tranco, em direção ao passado. E refiro-me a uma pessoa presente, e não a um simples presente que o aniversariante teria recebido. Preciso fazer nova pausa já que falei em presente.

Disse-me o Digão, muxoxando, no domingo, dia seguinte ao da festa pública:

- Ganhei pouquíssimos presentes...

E eu:

- É?

- Muita gente com aquele papinho "a lembrancinha vem depois"... Muita gente que me prometeu coisas e não cumpriu...

Ele chegou a me dar os nomes... Mas não os revelarei, é claro, já que sou um poço de discrição.

Enfim, o drama de sempre, conforme eu já havia dito aqui, quando comemorei meu aniversário.

O presente a que me refiro, atende pelo nome de Leovegildo Lins da Gama Júnior. Sim, ele mesmo. O Júnior. Figura fácil pela cidade, já o encontrei na praia, já o encontrei no Maracanã, já o encontrei em diversas rodas de samba pelo Rio, mas nunca - eis o mistério da fé - o impacto foi tão grande quanto naquela tarde.

Seria a emoção que já me causava a passagem dos quarenta anos do poço artesiano de doçura? Seria o cenário, seria o fato de estarmos ali, naquele canto sagrado da cidade, onde mora o verdadeiro axé do Rio de Janeiro? Não sei. Ainda agora, dias depois, não sei.

Sei apenas que bati os olhos no cara e voltei às cadeiras azuis do Maracanã numa tarde de 1978. Segurei firme nas mãos da minha garota - e naquele longínquo 1978 eram as mãos de meu pai que me davam a segurança de que eu precisava - e disse, já de olhos cheios d´água:

- Quero ir falar com ele... - e apontei.

A Sorriso Maracanã, que me conhece como poucos, disse sorrindo:

- Vai lá, meu amor...

E matou-me quando completou, sacando que eu, sozinho, faria merdas olímpicas:

- Eu vou com você...

Notem que o Felipinho Cereal, de posse de sua câmera, foi um craque. Sacou o lance e flagrou o momento em que o Júnior, craque eterno do mais-querido, responsável por lances e conquistas cravadas em mim, inabaláveis e indestrutíveis, com um sorriso, uma paciência e um carinho que só os ídolos têm, consola o menino de olhos cheios d´água que foi até ele apenas para agradecer.

Eduardo Goldenberg e Junior, rua do Ouvidor, 25 de agosto de 2007

Não pela fotografia que minha Dani tirou de nós, segundos antes, ela que aparece ao fundo, entre nós dois.

Mas por tudo.

Até.

29 comentários:

Craudio disse...

Edu, me lembrei do dia em que encontrei Sócrates e Wladimir - craques contempoâneos ao Junior - em um boteco que ia sempre ali pelas bandas do Itaim Bibi (naquela época, os "botecuchique" ainda não tinham proliferado).

Emoção maior do que encontrar um ídolo seu em um lugar querido por você não deve existir.

No mais, senti uma tonelada de culpa em "Muita gente que me prometeu coisas e não cumpriu..." Juro que sai ainda esse ano aquela grade.

Abraços!

Eduardo Goldenberg disse...

Cláudio (em AGE na Livraria Folha Seca, deliberou-se que é terminantemente proibido escrever seu nome da maneira como você pretende): vou tomar como brincadeira a tentativa de comparação...

Eu sei que certas coisas não têm, mesmo, comparação...

Mas é que comparar Sócrates e Wladimir ao Junior e o Itaim Bibi ao velho centro histórico do Rio é sacanagem...

Quanto à grade - creia - eu já desisti. Não se constranja! A promessa - diria meu mano Szegeri - foi mentira, mas foi bonita.

Forte abraço!

Anônimo disse...

Edu, querido, você e o Craudio me fizeram, também, retornar a um momento fantástico que vivi, quando estava na porta de um pé-sujo na Rua do Riachuelo e, de repente, entraram alguns de meus ídolos de infância: o Cremilson, o Tuca e o Sicupira. Porra! Ao vê-los, fechei imediatamente a conta e fui embora daquele bar. Se ainda fossem o Nilton Santos, o Didi e o Jairzinho, vá lá, vá lá...

Eugenia disse...

aah, eu tbm aaaamo o Júnior! Ele é mesmo mt doce e simpático. Já o vi na roda do Samba Luzia. Infelizmente ñ tinha ngm pra fotografar qdo fiquei do lado dele qd ele cantava "Flamengo joga amanhã, eu vou pra lá..."

Eugenia disse...

obs: nessa foto ele tá parecendo o PC Pinheiro.

Anônimo disse...

Quanta cabeça de carapuça, hein? Você atira no que vê e acerta no que não vê...
Mas suas tentativas de denegrir esse Poço artesiano de ternura (obrigado, eu não merecia, todos sabem da minha ululante insensibilidade) tornam-se infrutíferas, já que nenhuma pessoa que deixei de convidar para a festa mais fechada que cabaço de Honório Gurgel que aconteceu na sua cabeça, digo, no meu aniversário, lê o Buteco.
E meus 40 anos ficaram marcados por presentes inesquecíveis, tais como: a chegada para o Chega de Demanda do craque Elói; um autógrafo da década de 70 do argentino rubro-negro Doval; uma caixa com 5 discos de vinil do Gonzagão; uma escultura em casca de árvore vinda do Nordeste; o compacto nº 1 das Edições do Pasquim, com o Tom Jobim e o João Bosco; uma pipa proveniente de Niterói; além da presença de todos os nossos amigos no samba em homenagem ao Wilson Moreira que fizemos em frente à Folha Seca...
Sinto muito, meu velho.

Anônimo disse...

Du , como é triste viver de passado..enfrente a realidade e encare o Obina !!!!

Craudio disse...

Edu: nunca, jamais, em tempo algum iria comparar aquela merda que atende pelo nome de Itaim Bibi ao centro do Rio. A Cidade Maravilhosa está fora de cogitação de ser comparada a qualquer outra coisa.

Sobre os craques, fato é que eu quase chorei uma vez em que encontrei o Wilson Mano. Imagina esses dois aí, então?

Ah, e o Craudio é homenagem a minha grande vó, cuja ascendência nipônica não a deixa pronunciar a letra L de maneira alguma.

Abraços!

Eduardo Goldenberg disse...

Rodrigo Ferrari, ah, Rodrigo Ferrari: eu, educadíssimo, infelizmente, deixei de levar minha câmera fotográfica para a aprazível casa de sua igualmente aprazível mãe, Maria Helena, e Leal, não podendo, assim, portanto, comprovar, precisamente (como faço sempre!), o sucesso da festa mais fechada que cabaço de Honório Gurgel. Mas lá estavam, e não me deixarão mentir, Felipinho Cereal, Simas e Candinha, Cassio e , Fraga, Bemoreira, Prata e minha nora Luisa, o Mitke, Dani Folha Seca, Sóca, Márcio, enfim, gente que sentiu-se - tenho certeza - prestigiada com tão comovente convite.

O Zé Sergio, por exemplo, que te deu a pipa e lê o BUTECO, ficou de fora. O Fefê, que te deu um charuto cubano (não arrolado aí), também foi limado. O Moutinho, que também lê o BUTECO, ainda que esporadicamente, também não foi chamado.

Não me provoque, pocinho artesiano...

Todo meu carinho.

Ah!

E Claudio... levando-se em conta a nobreza do gesto de homenagear sua avó, submeterei o tema na próxima AGE na livraria. Forte abraço.

Anônimo disse...

Vocês que são meninos são eternas crianças :-)))))
Eu espero que você lembre, Edu, que eu disse que iria à festa da rua do Ouvidor. Eu fui mesmo e amei. Não tive coragem de me apresentar nem mesmo de falar com o seu amigo Rodrigo Ferrari (um gato :-)))))
Eu adoraria ser convidada pra festa fechada :-))), mas me senti privilegiada só de estar naquela rua em meio a tanta gente maneira.

Anônimo disse...

Edu, tu não tem jeito… e Ferrari, tu não aprende… não provoca a fera que é pior.

A foto com o Capacete ficou ótima, parabéns ao Felipinho Cereal!

Anônimo disse...

edu, o Junior é O cara! e eu, que sou Flamengo por causa do Dida ("é o mais querido, tem Dida, Dequinha e Pavão...") já tive o prazer de dar uma carona ao meu herói, antes dele passar lá prá cima. a gente ficar cara a cara com um monumento é de dar lágrimas nos olhos. ainda mais se o monumento faz parte da história do meu, do seu, do nosso glorioso Clube de Regatas do Flamengo (as maiúsculas são propositais. todas)
um abraço.

Anônimo disse...

Parabéns ao fotógrafo pelo perfeito registro: luz, enquadramento, emoção, tudo 100%.

Anônimo disse...

Só os comentários já dariam um novo texto. Tô rolando de rir só de pensar na cara do Digão lendo a resposta do Edu... Arthur Mitke

Anônimo disse...

Esses comentários sim é que fazem jus ao nome do blog: BUTECO! Todo mundo batendo boca, um sacaneando o outro, verdadeira expressão do espírito de um botequim. Valeu todo mundo!! Como disse o Arthur Mitke, os comentários já são um texto à parte! Abração.

Anônimo disse...

Só um reparo, Edu: leio o Buteco diariamente.

Eduardo Goldenberg disse...

Ô, Moutinho...: não fazia idéia! Fico honrado, creia firmemente nisso. Pra mim - vejo, agora, minha olímpica modéstia - apenas meu pai lia isso aqui diariamente, e mesmo assim sentindo-se obrigado a fazê-lo para agradar ao filho. Um abraço.

Felipe Quintans disse...

Grande Edu, acabo de pisar na cidade maravilhosa depois de estar por três dias isolado em Pouso Alto-MG. Como demoraram estes dias. Apenas agora li este texto, e quero te dar os parabéns por ter a sorte de estar ao lado de um dos maiores craques do nosso futebol. A foto ficou bacana, mas nada fora do normal.Creio que era o destino.

Beijo irmão, tou na área.

Anônimo disse...

Edu,
Eu também leio o buteco todos os dias. Leio também o Simas e o Bruno, mas no blog deles nunca apareceu uma foto como a do Júnior. E só para provocar eles que não venham com Paulinho Criciúma e Careca...
Grande Abraço

luiz antonio ifabiyi simas disse...

Edu e Coelho, para que ninguém ache que sou despeitado, registro que o Júnior foi, de fato, um bom jogador. O Paolo Rossi, por exemplo, concorda comigo, sobretudo depois da inteligentíssima linha de impedimento comandada pelo capacete no terceiro gol da Itália na tragédia do Sarriá.Coisa de gênio.
Bela foto.
Abraço

Eduardo Goldenberg disse...

Simão, querido: entre o Flamengo e a Seleção Brasileira, fico com o mais-querido. Logo, o erro cometido pelo Capacete, maiúsculo, em 82, é, pra mim, irrelevante. Beijo.

Szegeri disse...

Três pequenas observações:
1) Eu também não fui chamado para o cabaço do seu Honório. Aliás, faz tempo...
2) O Wladimir era um jogador nota 7. Mas o Doutor foi maior que o Júnior. Pouca coisa, mas foi. Mas, Cráudio, os irmãos cariocas raciocinam de forma peculiar.
3) O desprezo de meu irmão Galo pela Seleção Canarinho é triste e pequeno demais para ser comentado. Mas explica um monte de coisas.

Anônimo disse...

concordo, edu. foi um leve senão na história do grande Leovegildo. em tempo: não te conheço pessoalmente , nem aos seu amigos. só o rodrigo, cuja livraria eu já disse à ele e à daniela que causa dependência física. mas leio teu blog quase que diariamente, por que prá mim é uma maneira de estar num buteco mesmo estando dentro de um escritório de arquitetura...
valeu.

Unknown disse...

Eu também havia comentado que o Doutor fora maior do que o Júnior e o Edu não publicou. Mas agora que o Szegeri abriu a porteira, tento de novo: o Sócrates foi maior do que o Júnior. Pouca coisa, evidente. Mas foi.

Szegeri disse...

Tá rolando censura, Brunão?

Eduardo Goldenberg disse...

Fernando Szegeri: eu desafio, querido - eu DESAFIO, com a ênfase szegeriana - o Bruno...

Não há a menor, a mais ínfima, a mais remota possibilidade d´eu ter censurado ou não aprovado um comentário dele...

Ainda que não concorde - até porque comparar o Júnior com o Sócrates é sacanagem - eu jamais - com sua ênfase de novo... - faria isso.

Anônimo disse...

Naquele time do Flamengo o Sócrates seria um bom reserva para o Adílio

Unknown disse...

Edu querido, eu não tenho como provar, nem seria o caso. Deve ter havido um erro do blogger. Mas eu também não me sentiria ofendido se tivesse um comentário vetado, às vezes me excedo um pouquinho, é fato. Beijo.

Szegeri disse...

É sacanagem com o Júnior... E vocês não comparam nada, vocês torcem. O que pode ser lindo, mas tira qualquer possibilidade de debate.