29.10.07

UM ROTEIRO PREVISÍVEL

Em novembro de 2006, quando publiquei o texto TÁ DIFÍCIL - leiam aqui - escrevi o seguinte, que quero grifar antes de entrar no tema de hoje propriamente dito:

"Numa nota publicada hoje, intitulada "Turismo de alegria", denotando que o Jota anda numa fase afetadíssima, diz o consoante:

"O Rio, que só perde em turismo gay para São Francisco, já tem cinco grandes festas raves programadas entre 29 de dezembro e 1º de janeiro: Alegria, X-Demente, R.Evolution (duas edições) e Pool Party."

Sobre essa propaganda imunda do homúnculo (ganhando o quê em troca?), tenho a dizer o seguinte: todo mundo sabe, até o Pepperoni, meu fiel vira-lata, que festa rave nada mais é do que um pretexto para uso indiscriminado de drogas sintéticas, ecstasy, bala (como eles chama essas merdas, nem sei direito o que vem a ser) e outras bostas do gênero.

E isso é anunciado com festa (da alegria, segundo o Jota) em um dos mais importantes jornais do país. Agora... baile funk no morro é motivo para que os pais dos merdas que se drogam nas raves estendam faixas escrito "BASTA" em suas varandas. Tá difícil, tá difícil..."


Em dezembro de 2006, escrevi O JOTA E ALGUMAS QUESTÕES SOBRE O JORNALISMO - leiam aqui - cujo trecho destaco:

"Quando deparei-me, no sábado, com uma coluna fétida assinada por um tal de Ximenes (recuso-me a procurar, agora, o nome do empregado do jornal que escreve no caderno editado pela Ana Cristina Reis) na qual o infeliz exalta o Trem do Samba pelo que ele tem de épico e pela diversão que é um zona-sul ir ao subúrbio comer acarajé sem ser visto pelos seus pares, tive vontade de vomitar, Juarez. Ali, ele deseduca. Não sabe, o infeliz, a origem da festa. E dá a ela um tratamento degradante. Quando a própria Ana Cristina Reis plagia, flagrantemente, uma matéria como eu provei aqui, ela deseduca (e mente). Quando o jornal noticia (sem errar, observe isso) as festas raves que se espalham como câncer pela cidade com o único intuito de drogar a juventude seca por drogas sintéticas ele deseduca e ajuda a destruir uma geração. Quando o jornal dá, através da coluna do homúnculo, destaque evidente e vergonhoso a mentiras como Belmonte, Informal e outras merdas do gênero, ele mente e ajuda a destruir uma tradição. Quando o jornal toma partido ao longo de uma eleição presidencial, como essa nossa última, e chuta para escanteio um troço chamado isenção, ele mente e ajuda a impedir o amadurecimento e o crescimento de eleitores ávidos por informação equilibrada. Quando o jornal dá voz a uma série de empregados que não sabem nada, que não conhecem nada sobre o Brasil, sobre o ser-brasileiro, sobre a cidade e sobre o ser-carioca, ele de novo deseduca e vende, sorrateiramente, nossa alma ao diabo."

Feito o intróito, sigamos.

O repórter Janir Junior, jornalista de O DIA, irmão de sangue de meu irmão Luiz Antonio Simas, assina, hoje, corajosa matéria, que ganhou capa.

capa do jornal O DIA de 29 de outubro de 2007

Ganhou capa e amanhã, como diz o ditado, estará embrulhando peixe na feira da Soares da Costa, aqui na Tijuca.

Ler a matéria do Janir, que acompanhou, do início ao fim, o que significa dizer da madrugada de sábado até o final do dia de ontem, a tal rave realizada em Itaboraí, com a conivência do Governo do Estado, da Prefeitura de Niterói, do Corpo de Bombeiros e até do CREMERJ, é tomar contato, ainda que na confortável condição de leitor, com um verdadeiro circo dos horrores.

Cerca de 10 mil jovens, acéfalos, carentes, doentes, filhotes de uma sociedade consumista, hedonista, egoísta e pouco preocupada com a formação de seus filhos, lotaram, durante mais de 20 horas, o local, um sítio chamado Happy Land.

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Se a matéria impressiona pelo que revelam as fotografias, pelo chocante relato das barbaridades e das atrocidades cometidas pelos pimpolhos da classe média - os ingressos varivam entre 40 e 70 reais -, ela não traz, francamente, nenhuma (com a ênfase szegeriana) novidade.

Trata-se, a bem da verdade, de um roteiro até chato, de tão previsíveis que são as conseqüências de um troço desses.

Pelo menos um jovem, de 17 anos, cujo pai é morador da Barra da Tijuca (mera coincidência?!), morreu de overdose. Outros tantos, que foram à festa em vans alugadas pelos organizadores (!?!?!?!?!?) que saíram de Ipanema (mera coincidência?!), também passaram horas, segundo nos conta o Janir, dançando ao som de música (!?!?!?!?!?) eletrônica, e abusando das drogas sintéticas, as que não incomodam tanto à escumalha da classe média já que são vendidas por seus próprios meninos, isolando-os dos traficantes dos morros da cidade.

Um nojo, um verdadeiro nojo.

Uma parcela da juventude perdida.

Que ainda cobrará - anotem - sua conta, altíssima.

Até.

7 comentários:

Eugenia disse...

essa gente ñ sabe se divertir...
ontem, felicidade se escrevia com as canetas do samba e da cerveja... hummmm!!!!

Anônimo disse...

Edu,
Realmente, o que acontece nessas festas rave é deprimente. Mas, se pararmos pra pensar, a história se repete, sempre houve, e sempre haverá abuso de drogas por parte dos jovens, e de outras pessoas nem tão jovens assim. Afinal de contas, quem diz que não conhece ninguém que nunca usou drogas ilícitas é na realidade ou cego ou um tremendo mentiroso.
Eu falo com um certo desgosto, pela omissão dos pais, pois é mais fácil fingir que não estão vendo, entregar a educação da criançada às "boas escolas"; que informam, e não formam, prestem bastante atenção nesta diferença; pois é mais fácil dizer sim, dizer não sempre ouvir dizer que é mto difícil.
Não sei mais tb o qto o abuso e o uso de drogas é "culpa" somente dos pais, da sociedade, do governo. Jovens de classe média, mais do que ninguém sabem, e se não sabem possuem meios de saber, os males que quaisquer tipos de drogas podem ou não fazer.
Dessa forma, esses imbecis, pois são exatamente isso, vão, experimentam de td um pco,e não calculam as consequências... Sinceramente, morrer é o de menos. O complicado é qdo um gênio desses volta pra casa dirigindo, ou não, e no meio do percurso apronta alguma. Mto triste se matar, mas pior é voltar "alto" pra casa e matar alguém.
E ainda tem gente que vem me dizer que a culpa é do governo...obvio que tb é, mas os filhinhos de papai, assim como os papais e mamães, não pensam no que estão fazendo... se pensassem, não fariam...é nisso que dá alimentar e dar boa educação a essas criaturas...

Unknown disse...

É o preço que a classe média está pagando, também, pelo terrível desenraizamento cultural a que se rendeu a partir do golpe militar. Para mim está muito claro, as coisas estão todas ligadas. A "necessidade" de se divertir em raves, ao som de música eletrônica, não faz parte dos anseios mais profundos do povo brasileiro. Acabamos reféns, não bastasse econômicos, de um tipo de comportamento importado de sociedades completamente devastadas pelo consumo. Triste.

Arthur Tirone disse...

É de vomitar essa molecada consumista e alienada que frequenta essas porras de rave e micareta (tem o mesmo perfil estes otários que vão às festas da moda). São pessoas nocivas, tão escrotas que fazem questão de se diferenciarem socialmente até no uso da droga. O pó, para esse bando de filhinhos de papai, é uma droga suja, mais pobre, uma droga que não dá o barato da bala (que eles dizem que proporciona a melhor sensação que pode existir) e que - veja só! - é droga de "nóia"!
Acredito, Edu, que ninguém em estado normal de consciência suporta mais que dez minutos aquela porcaria de barulho. Tem que tomar uma porra de droga, que ainda separa os "privilegiados" dos "nóias".
Ouvi dizer os "raveros" mais puristas (hahaha), esses playboys e patricinhas, mano... Sabe o que eles pensam??? Que essa droga deve ser apresentada à pessoas especiais, somente para pessoas queridas, já que é um privilégio enorme pra qualquer um usar! Eles chamam de "mundo paralelo" o efeito da coisa, onde pode-se experimentar as melhores sensações, onde um toque no braço ou um abraço fazem você ter uma sensação tão boa quanto um orgasmo.
Bem você disse que é um bando de gente carente. Gente que não consegue se sentir feliz apreciando as coisas simples. Aí apelam pra bala...
Neste sentido, essa podridão é muito similar à outro grandioso lixo - o Orkut -, que começa com poucas pessoas convidando outras e a coisa ganha "status" para aí infestar e arrasar essa gente que não consegue viver sem se entregar à toda a lama que nos querem enfiar goela abaixo.

Beijo, querido. Pau neles!
Favela

Anônimo disse...

Boa Tarde, Edu!

Parabéns pelas postagens. Moro em São Paulo e vejo que a midia é hipocrita em todo o Brasil mesmo. Parabéns pelo o seu blog!

Anônimo disse...

Volto aqui a escrever...
Bem, pra começar, conheço pelo menos 3 pessoas que vão a raves e ficam de cara limpa... os pais sabem que vão, e ficam essas pessoas de cara limpa pq se chegarem em casa drogados sabem que o papo vai ser outro. É claro que toda boa regra tem sua excessão.
Bem, voltando a defender meu ponto de vista. O problema com drogas não é algo específico de hj em dia. É claro que atualmente as coisas estão mto mais bagunçadas do que há anos atrás. Nunca ouvi ninguém comentar de notícias como estas no jornal.
O caso é que o LSD não é de hj, que sintetizar essas coisinhas não é difícil, e que há mtas outras formas de ficar "alto" mto mais baratas. Ao contrário do que Arthur disse, bem os "filhinhos de papai" não vêem o pó como uma droga suja. Mtos deles a usam, mas não falam, por medo do preconceito, e mtos dos que não usam não o fazem por medo, pois sabem que vicia e mto.
Enfim, eu sinceramente acredito que esse uso indiscriminado, abusivo, absurdo é resultado da falta de razão, falta de miolo mesmo dentro do que essas pessoas chamam de cabeça... Essa galera não pára pra pensar nas consequências de nenhuma das drogas, pesadas, leves, que viciam ou não, lícitas ou ilícitas. É um clichê, mas acho que cabe mto bem aqui, td nesta vida traz consequências... se vc não tem responsabilidade o suficiente, capacidade o suficiente, entre outras coisas o suficiente, pra arcar com as mesmas, simplesmente não arrisque, pq neste caso, ninguém que arrisca consegue petiscar.
Um bando de crianças inconsequentes, sao o que eles são sim. E pior, são os empresários que financiam e promovem essas festas. E depois nos vem falar que são contra a violência e o tráfico de drogas...

Anônimo disse...

É normal o ser humano buscar estados alterados de consciência, em qualquer era e em qualquer lugar do mundo. Alguns meditam, outros bebem, outros cheiram, etc, etc, etc. Os meios são diversos, mas o objetivo é sempre usufruir um estado mental diferente do ordinário.
O que me enoja é a hipocrisia. Rave pode, bala não. Como se fosse possível, hoje em dia, dissociar uma coisa da outra. Beber pode, fumar maconha não. Como se nossos legisladores fossem isentos e minimamente informados para fazer esse julgamento. Como se não soubéssemos que, mantido o status quo, eles ganham dinheiro de ambos os lados: do tráfico e dos fabricantes de cigarro.
E agora criticam o Souza por ter comemorado um gol fingindo que dava tiros. Dizem que ele "exaltou a violência". Puta que pariu, quanta hipocrisia. Quer dizer que os filhos de jornalistas nunca ganharam uma arma de plástico de presente de Natal? Se bobear, daqui a pouco as crianças não poderão mais brincar de mocinho e bandido ou faroeste. Afinal de contas estas atividades "exaltam a violência"! Tá difícil...