22.11.07

UM RECADO ELUCIDATIVO

É na memória que tudo o que amei sobrevive, apud Aldir Blanc. Eu sou um homem que coleciona papéis, jornais, fotografias, registros de tudo o que vivi, de tudo o que vivo, de tudo, inclusive, o que sequer pude viver mas que são registros de coisas que me comovem profundamente. Como por exemplo os jornais com as manchetes das conquistas de 1958, 1962 e 1970, que papai, dia desses, entregou-me.

Contei-lhes isso, no intróito, e quero lhes dizer que até mesmo recados eu coleciono. Explico.

Em 21 de agosto de 2006 meu mano paulista, Fernando Szegeri, deixou recado em minha secretária eletrônica e guardei aqui. Em 09 de fevereiro de 2007 foi a vez de Tiago Prata deixar-me um recado, assumindo publicamente sua condição de meu filho mais novo, e que também guardei, aqui. Em primeiro de março de 2007, novamente Fernando Szegeri, dessa vez completamente embriagado, deixou recado em minha secretária eletrônica, e eu guardei aqui.

E ontem, meus poucos mas fiéis leitores, recebi um recado - que ouvi apenas na manhã de hoje - deixado por dois paulistas queridos, Fernando Borgonovi e Arthur Favela. São meus, os caras. E são, meu mano Szegeri não me deixará mentir, delicadíssimos, umas flores de pessoa. Juntos, então, como vocês poderão ver (e ouvir), formam um jardim florido.

Por isso eles são meus. Não têm papas na língua nem preocupação com a babaquice do politicamente correto, troço que está - estou apenas mantendo a linha dos caras... - fodendo com o mundo.

Eis o recado, transcrito abaixo, e que pode ser - notem que beleza! - também ouvido. E faço, daqui, um pedido ao Favela: se você conseguir reconhecer o que diz à certa altura do recado, malandro, diga-me que eu tiro a palavra ininteligível.


Eis a transcrição:

"Eduardo Goldenberg, só estou ligando a essa altura da noite para revelar, para você, que após a vitória da Seleção Brasileira em que a torcida paulista envergonhou mais uma vez o Brasil, nós saímos do estádio do São Paulo Futebol Clube ao som de Village People... você acha que é revelador da conduta deste clube abjeto ou não? O Favela tá aqui e quer falar também...

Edu... não satisfeitos em tocar uma música famosa de viados... Eu não sei, sinceramente, a letra... Tô saindo do estádio agora ao som de It´s Raining Man... está chovendo homem... o clube das bichas loucas do Brasil! Um beijo, querido, salve!
"

Até.

6 comentários:

Arthur Tirone disse...

Que cachaça!

Pode tirar o ininteligível:

"Edu... não satisfeitos em tocar uma música famosa de viados... Eu não sei, sinceramente, a letra. Tô saindo do estádio agora ao som de It´s Raining Man... está chovendo homem... o clube das bichas loucas do Brasil! Um beijo, querido, salve!".

A letra a que me referi é o nome da música que tocou antes de It´s Raining Man.

Eduardo Goldenberg disse...

Feito, Favela!!!!!

Mas só me conta... Como você obteve cachaça dentro do estádio se a venda de álcool é, infelizmente, proibida?

Arthur Tirone disse...

Encontrei-me com o Szegeri e o Borgonovi num buteco bem podre em frente a Procuradoria. O Capitão Leo, parado no trânsito da Dr. Arnaldo, demoraria meia hora pra chegar. Aí, meu cumpadre, foi conhaque duplo, maria mole, rabo de galo e algumas Brahmas. No caminho para o estádio, tomamos mais várias latinhas. Ainda fui milagrosamente resgatado pelo bom Szegeri - que acenava desesperado balançando os braços - após saltar repentinamente (sem celular, carteira, lenço e documento) do carro pra dar uma oceânica mijada numa portentosa árvore, sendo visto por todos os nojentos torcedores que iam pra "Gaiola das Loucas". Fiquei chapado, Edu, e só fui curado por um dogão na saída.

Craudio disse...

E muito provavelmente o Borgonovi já dormia quando o Favela comia seu dogão.

Agora, Edu, os caras vão ao estádio que fica praticamente do lado de minha casa (a Tijuca está para o Butantã assim como o Maraca para o Morumbi, esclarecendo desde já que se trata somente da distância, já que o Morumbi é um estádio de merda e que o Butantã é bem maisomeno) e não me batem um fio pra tomar uma na entrada da Gaiola das Loucas...

4rthur disse...

Se dependesse da televisão e dessa tocida de ontem, eu até poderia reforçar o coro da rixa entre cariocas e paulistas. Mas é no teu blogue, Edu, que descubro essas figuras de Sampa que destilam o mesmo senso de humor ácido e sacana ao qual fui acostumado.

Concluo que o que existe não é uma diferença entre o carioca e o paulista, mas sim uma colossal distância entre o camarada crítico e audaz e o bobo-alegre com grana demais e miolo de menos.

Anônimo disse...

Caro Edu,
na minha condição de tricolor e paulistano, além de seu parceiro pentacampeão, compareço aqui para prestar alguns esclarecimentos. Afinal, os turistas merecem ser carinho e informação exata sobre aquilo que desconhecem.
Tratava-se de um jogo da Seleção Brasileira, e o Morumbi abriu seus portões para torcedores de várias cepas: corinthianos, palmeirenses, lusos, atleticanos e até flamenguistas. Como bons anfitriões, servimos em nossos alto-falantes aquilo que mais apetece à platéia tão diversificada. "Village People" e "It's Raining Man" ressoaram no estádio para que as arquibancadas se sentissem reconfortadas e recebessem de nós aquilo que costumam encontrar por onde andam. São canções que não tocaram no jogo contra o Internacional, quando demos a volta olímpica pela conquista antecipada do Brasileiro. Antecipada, lembre-se, em alguns meses.
Quanto a nós, paulistas, termos envergonhado o Brasil: tudo depende daquilo que cada um entende por "Brasil" ou por "vergonha", ou ainda, por "futebol". Eu, sinceramente, achei as vaias do Maracanã mais belas e mais sonoras, e teria vaiado o Time do Anão onde mais fosse -- São Paulo, Rio, Buenos Aires, Porto Alegre ou Cidade do Cabo.
grande abraço,
Andre.