2.2.10

DIA DOIS DE FEVEREIRO...

Consta que mamãe, grávida de mim, seu filho mais velho, tinha um sonho recorrente. Na praia, na areia, diante do mar revolto, mamãe chorava angustiada olhando pro mais alto, onde nuvens carregadas davam cores mais trágicas a seu medo e seu temor. Das águas do mar, emergia uma moça bonita, com olhos doces e feição amorosa, trazendo uma criança no colo que era oferecida à minha mãe. Mamãe chorava - e chorava muito. Negava o presente das águas, e a moça bonita mantinha os braços estendidos em sua direção com expressão ligeiramente autoritária e impositiva. Passado um tempo, rendida à insistência daquela mulher, mamãe caminhava pro mar. E quando seus pés tocavam a espuma das ondas que arrebentavam na areia, o céu se abria, o mar acalmava e a moça desaparecia nas profundezas das águas. Era quando mamãe me punha no colo, os olhos lavados de lágrimas e maresia. Hoje, dia de festa no mar, dia de Yemanjá, dedico à minha mãe minha mais profunda gratidão por ter me criado como me criou. Agradeço aos deuses que me emocionam a cada dia mais pelo fato de eu ter vindo ao mundo através dela, a mais doce das mulheres, rigorosa, impetuosa, generosa acima de tudo, imagem e semelhança da moça do mar.

Até.

Um comentário:

Blog do Pian disse...

Sou (também) filho de Yara.

Muito bonito o que escreveste.

A todos: um bom dia de Iemanjá.

R.Pian