26.3.10

QUEM SÃO OS VÂNDALOS?

A foto abaixo foi tirada por mim, ontem, às 13h17min, da esquina das avenidas Almirante Barroso e Antônio Carlos, no centro do Rio de Janeiro, e mostra diversos carros oficiais (segundo informação de um PM), pretos (embora com placas comuns), estacionados sobre a calçada, uma motocicleta também da Polícia Militar que trafegava em alta velocidade também sobre a calçada e um carro da PM que cuidava da segurança em frente ao prédio do Jockey Club.

- Boa tarde. O que está havendo aí?

- Não sei não, senhor. Sei que o prefeito e o governador estão aí - foi o que me disse um dos policiais.

Eu que tanto critico, e com veemência, essa deduragem explícita fomentada pelos meios de comunicação, vi-me, ali, celular em punho, fotografando a bandalheira: depois de perceber um helicóptero pousando no alto do Tribunal de Justiça, que fica exatamente em frente ao Jockey Club (imaginei ser o governador Sérgio Cabral ou o prefeito Eduardo Paes), depois de contar mais de 10 carros parados sobre a calçada de pedras portuguesas da avenida Antônio Carlos, depois de contar 8 policiais destacados para a segurança do troço todo, depois de provocar um guarda municipal que, evidentemente, nada fez - "não vai multar os carros?" -, fotografei.

calçada em frente ao Jockey Club, avenida Antônio Carlos, Centro do Rio de Janeiro

Publiquei a foto no TWITPIC (aqui) e me dei por satisfeito.

Ocorre que hoje, lendo os jornais, tomando ciência do ocorrido, ontem, com os trens da SUPERVIA - leiam aqui - ocorreu-me a pergunta: quem são os vândalos?

Simples consulta ao dicionário:

"adjetivo e substantivo masculino
2 Derivação: sentido figurado.
que ou aquele que estraga ou destrói bens públicos, coisas belas, valiosas, históricas etc.
Exs.: destruíram o ônibus num ataque v.
um grupo de v. atacou a igreja
3 Derivação: sentido figurado.
que ou aquele que não tem cuidado, esmero, tudo estraga
Exs.: um método v. de podar árvores
arranjei um v. como dentista
4 Derivação: por extensão de sentido.
que ou aquele cuja ação ou omissão traz prejuízo à civilização, à arte, à cultura
Exs.: política educacional v.
o ministro foi um v. ao cortar as verbas da cultura"


Antes de prosseguir: lembrei-me do texto que publiquei em 18 de dezembro de 2009 sobre o METRÔ que, como a SUPERVIA, presta um péssimo serviço aos cidadãos do Rio de Janeiro (leiam aqui). Disse eu, lá:

"Enquanto a população não for efetivamente mais firme (não vou defender aqui a destruição absoluta de todas as estações e um quebra-quebra sem precedentes na sede da empresa, na avenida Presidente Vargas, sob pena de ser acusado de incitar a desordem e o vandalismo) a sacanagem dos porcos que comandam o consórcio responsável pelo serviço metroviário na cidade do Rio de Janeiro vai continuar.

(...)

À moda babaca que pendura lençol branco na janela pedindo paz, que combina abraço à Lagoa pra sei-lá-o-quê, a população propôs um boicote ao metrô no final de novembro - como se fosse possível, pra grande parte dessa mesma população, recorrer a outro meio de transporte, ainda que por um dia. Não deu em nada, é evidente (só um beócio acreditou no êxito da medida). Medida babaca que - alguém duvida disso? - deve ter feito os poderosos gargalharem entre baforadas de charuto e apalpar de bolsos abarrotados de dinheiro.

Ou radicaliza-se ou vai ficar tudo como está.

Pau na canalha!"


Diz o jornal, sobre ontem:

"A SuperVia informou que vai registrar queixa na delegacia, nesta sexta-feira, contra os passageiros que participaram de atos de vandalismo nesta quinta na estação de Saracuruna. A imagem de um homem, ainda não identificado, ateando fogo em um vagão foi divulgada e poderá ajudar na identificação. A sequência de atos de vandalismo foi detonada por defeitos em dois trens. Passageiros revoltados quebraram bancos, placas, lixeiras, depredaram um trem enguiçado e incendiaram um dos vagões do outro.

(...)

O tumulto começou às 6h, quando um trem que seguia de Saracuruna para a Central enguiçou. Meia hora depois, os passageiros foram levados para outra composição, que também parou. As pessoas tiveram que caminhar pelos trilhos."


A população do Rio de Janeiro, paciente demais pro meu gosto, passiva demais pro meu gosto, levou foi muito tempo para reagir à altura contra a canalha que nos governa (e fez pouco). Vândalos - os que destróem bens públicos e históricos, aqueles cuja ação ou omissão traz prejuízo à civilização, à arte e à cultura - são os políticos que não estão nem aí para o bem-estar da população. Pra ficarmos no Rio de Janeiro, vândalo é César Maia, autor daquele elefante branco na Barra da Tijuca que engordou a conta bancária de muito filho da puta. Vândalo é Eduardo Paes que faz do choque de ordem a muralha que pretende esconder a vergonha que é o asfalto da cidade, as calçadas da cidade, os ônibus da cidade, e digo desde já que essas blitzes-pra-imprensa que lacram um ou outro meio de transporte (seja táxi ou ônibus) não vão dar em nada. Há que se ter coragem para a cassação de licenças, para - por que não?! - o encampamento das linhas que tratam o passageiro como gado (saudades de Leonel Brizola...). Vândalo é Sergio Cabral que não tem pulso firme com o METRÔ, com a SUPERVIA, com a BARCAS S.A., concessionárias que tratam os usuários como lixo. Vândalo é Jorge Picciani, presidente da ALERJ, que - para dizer o mínimo - emprega uma rainha de bateria qualquer às custas do contribuinte e que, há até pouco tempo, era investigado por conta de trabalho escravo em suas fazendas. Daí Paulo Maluf é dado como caçado pela INTERPOL, um dos filhotes de José Sarney tem conta bloqueada pelo governo da Suíça (depósitos da ordem de US$ 13 milhões), rastreada a pedido do Judiciário brasileiro, e vamos vivendo assim, achando tudo muito normal.

Há que se radicalizar.

A população que ontem protagonizou o quebra-quebra não agiu como vândalo (existe "vândala"?). A população reagiu e reagiu na exata medida de sua possibilidade. Tire um dos poderosos de seu carro oficial, cercado de batedores, de seu helicóptero, de seu jatinho, e veja como reagirá o canalha dentro de um transporte público por dias e dias seguidos. A população reagiu - repito - e dessa reação, em cadeia (tomara, tomara, tomara!), sobrevirá, seguramente, mais respeito.

Pau na canalha.

E seremos um lugar melhor pra se viver. Somos um país-bebê, com pouco mais de 500 anos. Creio nisso. E na força do povo.

Até.

6 comentários:

Paulo Rogerio disse...

Faço de suas palavras as minhas !!!!

Pau na canalha !!!!

Blog do Ernestão disse...

Edu
Acompanhei na Band News FM, o Ricardo Boechat perguntando aos 4 cantos do RJ, quem é o majoritário da Supervia. Nem sabe, ninguém viu... Não se sabe se é um fundo de pensão ou é algum "capo" do governador.
Aqui de Campinas (terra onde Felipinho Ceral tem mais fãs!)digo que a respeito do Eduardo Paes, quem deve falar neste portentoso balcão é o R. Pian (O Craque da Gema).
Pian: Num vai apelar com o Ernestão !!!!!

Abração

Fabio disse...

Salve, Edu

Reunião típica dos maiores filmes sobre mafiosos, cada vez mais a vida "chalitando" a arte...
Tem até blog de personagem da novela das 8 e, absurdo dos absurdos, tem quem mande recados de restabelecimento para uma mera peça de obra de ficção... e não são poucos. É o circo dos horrores!!!
Definitivamente, a Revolução não será televisionada.

Há braços.

Blog do Pian disse...

Goldenberg,

Mais uma vez, gostei muito do que escreveste.

(Imagino como deve ser difícil escrever-defender uma atitude popular mais contudente sem flertar com a delinquencia e vandalismo. E isso você o fez muito bem).

Só discordo, evidentemente, da escalação do Eduardo Paes no balaio dos vândalos. (Aproveito e te respondo, Ernestão).

O Prefeito não usa o Choque de Ordem como muralha para se desviar de assuntos primordiais como as calçadas, o nosso (péssimo) asfalto e as nossas precárias e mafiosas linhas de ônibus.

Fosse assim, não teria ele criado uma Secretaria exclusivamente voltada para a Conservação da cidade, colocando-a sob o comando de alguém sem ligação politica alguma. (E isso é importante frisar: O Secretário Osório só deve satisfações às demandas do Rio, não está subordinado a nenhum interesse político ou eleitoral).

Mais: Paes, em seu último ato do primeiro ano de governo, cassou a concessão da linha dos ônibus Oriental, empresa tradicional da zona oeste, fato corajoso e há muito não visto pelos comandantes municipais.

É pouco? Lógico que é! Mas já que falamos de avanços, não podemos deixar esse passar em branco.

Não vou me alongar nas minhas defesas de cupincha, pois sei que você odeia quando eu faço isso.

Forte abraço,

R.Pian

Blog do Pian disse...

na revisão ficou o "contuNdente"...

Blog do Ernestão disse...

Caro Pian !

Ao longo de mais de 10 anos, trabalhei em cargo de comissão com um político de expressão nacional (não é o Maluf Edu!), por isso posso te dizer de cátedra: Você é um verdadeiro Quiabo ! Que figura!

Abração

Ernestão.