5.7.10

DO DOSADOR

* Fim de papo pro Brasil na Copa do Mundo de 2010. Um fim melancólico se levarmos em conta que perdemos de virada pra Holanda depois de nosso melhor primeiro tempo desde o início da competição. Inexplicavelmente, deixamos de atacar depois do primeiro gol, de Robinho, feito poucos minutos depois de um gol, do próprio Robinho, acertadamente anulado. O intervalo marcou uma espécie de apagão na seleção canarinho. Sofremos o gol de empate após a primeira (e fatal) falha de Júlio César nesta Copa do Mundo e o gol de virada depois de um escanteio infantilmente cedido pelo também regular (e muito bem) Juan. Depois, foi o que se viu. O inacreditavelmente convocado Felipe Melo - chamado por Aldir Blanc de "arma de destruição em massa" pouco antes da estréia do Brasil na Copa - que já havia participado da trapalhada que resultou no primeiro gol holandês, fez uma falta em Robben, nas barbas do bandeira, e, não satisfeito, pisou ferozmente no adversário, o que resultou na sua merecida expulsão. Foi quando ficou mais evidente que nunca o equívoco da escalação do (já) ex-treinador Dunga. Sem banco, trocamos seis por meia-dúzia e vimos escapar a chance do hexacampeonato;

* não custa tirar uma onda por aqui. No dia 29 de junho, escrevi aqui: "Alemanha e Argentina farão um jogaço, como jogaço será o Brasil e Holanda. No bolão - e dane-se o bolão! - pus a Holanda derrubando o Brasil. Não creio nisso, sinceramente. Faremos, tenho certeza, mais um jogo-teste-para-cardíaco. E aposto, de leve, na seleção alemã. Continuo achando uma teta a defesa argentina. E acho que a Alemanha, que vem de um portentoso 4 a 1 contra a Inglaterra, vai mamar nas tetas dos hermanos. A conferir;". Pois a defesa argentina mostrou-se, de fato, uma teta na boca dos alemães. O 4 a zero, inapelável, mostrou a fragilidade da defesa da seleção da Argentina e o absurdo que foi a aposta de Maradona apenas no talento individual de seus jogadores, prescindindo de qualquer esquema visivelmente compreensível;

* vejam vocês do que é capaz o equilíbrio e a inteligência emocional de um jogador de futebol. Felipe Melo, uma tragédia nos dois quesitos, tomou um cartão vermelho por conta de sua irresponsabilidade e por conta de seu agudo desequilíbrio, reverberado por causa da mesma irresponsabilidade e desequilíbrio do treinador brasileiro. Em uma jogada boba, na lateral do campo, que não oferecia risco para a selação canarinho, fez o que fez e desfalcou o escrete num momento crucial da partida. O (bom) jogador Suárez, do Uruguai, optou por meter a mão na bola no último segundo do segundo tempo da prorrogação do jogo contra a seleção de Gana. Em cima da linha, impedindo o que seria o gol da seleção africana e o selo de desclassificação uruguaia, recebeu o cartão vermelho como um troféu por sua ousadia, fruto de equilíbrio (o que fazer agora?!) e inteligência (impeço o gol, sou expulso e dou mais uma chance à minha seleção). Suárez foi premiado pela sorte, e uma das imagens mais bacanas dessa Copa foi sua comemoração, já do lado de fora, após o pênalti perdido por Gyan, artilheiro ganês, levando a peleja para os pênaltis. Foi quando o Uruguai levou a melhor, fechando a tampa do caixão dos africanos após pênalti, à cavadinha, cobrado por Loco Abreu. Uma brincadeira estúpida do uruguaio que poderia - poderia, eis uma das graças do futebol - ter custado muito caro;

* Espanha e Paraguai também fizeram um jogo pelas quartas-de-final bastante interessante do ponto de vista da emoção, fundamental ingrediente dos grandes jogos e da epopéia que é uma Copa do Mundo. Com dois pênaltis perdidos, um pra cada lado, um logo após o outro, com trapalhadas do árbitro (que se valeu de critérios pouco compreensíveis, mandando repetir a primeira cobrança da Espanha, convertida e depois desperdiçada, por conta de uma invasão de área que havia ocorrido também na cobrança a favor do Paraguai, desperdiçada e não anulada) e um gol chorado da seleção espanhola a poucos minutos do fim, entrou pra galeria dos jogos de fazer sofrer do coração o mais frio dos espectadores;

* teremos agora, pelas semifinais, Uruguai e Holanda amanhã e Alemanha e Espanha na quarta-feira. As previsões têm sido difíceis nessa Copa de resultados tão inesperados. Mas até os mortos dão seus palpites. Aposto na raça dos uruguaios contra a frieza dos holandeses. Aposto no talento individual de Forlán. Reconheço que fará falta o Suárez. Mas é nos uruguaios que aposto minhas fichas. Alemanha e Espanha se enfrentarão novamente depois da decisão da Eurocopa 2008, quando os espanhóis levaram a melhor num apertado 1 a zero. Como a Alemanha joga e deixa jogar, o jogo deverá ser franco e bonito de se ver. A Espanha, que vem se destacando pelo volume de posse de bola e que mostra dificuldade quando enfrenta seleções com forte esquema defensivo, deve - digamos - gostar do jogo. O que é garantia de um partidaço;

* e pra terminar. É absolutamente incrível o fanatismo da torcida argentina. A recepção à seleção e os pedidos eufóricos pela permanência de Maradona são, mesmo, quase-inacreditáveis. O que não justifica a também inacreditável torcida de alguns poucos brasileiros pelo êxito argentino na Copa do Mundo. Luiz Antonio Simas, por exemplo, com quem assisti à partida entre Brasil e Holanda, chegou à minha casa brandindo o celular e gritando:

- Veja que absurdo intolerável!

E mostrava, incrédulo, a mensagem enviada minutos antes do começo do jogo por um dos nossos:

"Querido, ninguém tira a Argentina da final"

Lastimável.

Até.

10 comentários:

Daniel A. de Andrade disse...

Caro Edu, as análises estão precisas. Faltou, apenas, colocar antes dos nomes Júlio Cesar, Juan e Felipe Mello, a – reveladora – identidade de “rubro-negro”.

De resto, concordo com vc: é muito estranha essa coisa de brasileiro torcer por argentinos numa Copa do Mundo.

Abs.,

Daniel A.

Eduardo Goldenberg disse...

Daniel: mais estranho, meu caro - me permita - é moutinhar em cima do Brasil em plena Copa do Mundo. Um abraço.

Daniel A. de Andrade disse...

Esse verbo novo, eu não conheço. Desculpe-me a ignorância, meu camarada.

Mas não vejo nada de estranho na minha sugestão, apenas segui a linha da tão festejada coerência do Buteco, pois quando você, em outro texto, enalteceu as qualidades do jogador do Roma, Juan, referiu-se a ele como rubro-negro. A não ser que nos momentos das falhas, frangos e botinadas, os jogadores percam sua identidade. Nesses casos...

Abs.,

Daniel A.

Eduardo Goldenberg disse...

Caríssimo: sem o twitter você não saberá mesmo a definição do verbo "moutinhar", isso deixa para lá. O zagueiro jogou no Flamengo e fez bonito na Copa, assim como o goleiro. O botinudo é de Volta Redonda, não tem essa identidade. De mais a mais, vale o Brasil em campo durante a Copa. O Flamengo, maior, nunca se interessou em fornecer jogadores pra CBF. Quando o fez, não foi feliz. O que sinceramente não me importa. Forte abraço.

Marcelo disse...

Torci pela Argentina e também pelo Paraguai contra a Espanha.
Donde se conclui que sou um pé-frio do cacete.

Abraço do Coelho

Unknown disse...

A mensagem que o Simas recebeu foi mandada por mim.

E repito, como tenho repetido: torci pelo Brasil e não pela Argentina (embora também não tenha torcido contra -- visto que sempre torci pelos vizinhos sul-americanos diante dos europeus).

Tive, antes do início da Copa e durante um sonho (a prova está num antigo post do meu blog), uma premonição, um pressentimento, de que a Argentina seria campeã do mundo. Por isso a mensagem "Querido, ninguém tira a Argentina da final". Viu-se, depois, que minha intuição estava errada. Mas foi apenas um palpite, nada além de um palpite.

É fato, pois, que torci para o sucesso de Maradona após a eliminação do Brasil. Da mesma forma como torcerei pelo êxito do Uruguai contra qualquer que seja o adversário daqui por diante.

Inacreditável e inadmissível, para mim, é torcer para o colonizador. Uma rivalidade futebolística não deve jamais cegar a razão; jamais estar acima dos laços de amizade e cultura que nos unem, latino-americanos que somos. É isto.

Beijo!

Mari disse...

Olá, Edu. Desculpe-me, realmente não entendi, mesmo porque imagino quem mandou a mensagem: porque lastimável que alguém torça pela Argetina?
Onde está o problema? Só pergunto porque realmente não o estou enxergando.
Um abraço.

AOS QUARENTA A MIL disse...

Já estou imaginando dia 14.

Então tá ! A cavadinha do Loco é uma brincadeira estúpida e a falha do jogo Brasil e Holanda não foi Rubro Negra!!

Beijos querido (pra vc não vir descendo o sarrafo).

Claudio Renato disse...

Edu, tenho dito:

Enquanto alguém não me convencer, por A + B, por que devo odiar a Argentina e detestar o Mardona, sigo admirando aquele país e aquele craque, por quem torci muito. Tenho amigos em Buenos Aires e La Plata, e NUNCA (com aquela ênfase que vc conhece) foi molestado, maltratado por ser brasileiro. Muito pelo contrário. A goleada sofrida pela Argentina foi dialética, fruto da política de Diego de jogar bonito e aberto, mesmo com uma defesa muito vulnerável. Desde o começo, Maradona orientou o time nesse sentido: evitar o meio a zero preconizado pela Fifa. Um abraço.

Claudio Renato

Eduardo Goldenberg disse...

Bruno, Mariane, Claudio: vocês não entendem mesmo, então isso deixa para lá. Quem disse que eu disse que não se pode gostar da Argentina? Agora... torcer para a seleção argentina?! Nossa maior rival?! Francamente...